Por Ruy Cavalcante

Não se passaram muitos anos desde o tempo em que o jovem evangélico se deparava com preconceitos sociais, fruto de sua firme postura negativista diante da sociedade. Por não beber ou fumar, não namorar irreverentemente nem se comportar de forma considerada imoral, ele era em geral tratado pelos outros jovens como alguém alienado, bobo, careta e sem personalidade.

Na prática o preconceito continua, porém os motivos são bem diferentes, pois se existe algo que o jovem cristão da atual geração, em especial a neopentecostal, não é, é careta. Ser evangélico não é mais sinônimo de ser antiquado, inocente. O jovem evangélico agora promove festas raves[1], namora indiscriminadamente, bebe e não se diferencia mais dos outros pela roupa ou pelo vocabulário. Este “embaraço” não faz mais parte do cotidiano cristão.

Entretanto, infelizmente agora, ser evangélico tem, aos poucos, se tornado sinônimo de ser apaixonado por dinheiro, ser aproveitador, ser soberbo e ser amante excessivo de si mesmo, tudo exatamente inverso ao que nos anuncia o Evangelho de Jesus. Mas desta vez a culpa não é da perseguição religiosa ou da ignorância popular quanto aos verdadeiros valores do Reino de Deus, mas do mau testemunho da igreja, de sua inoperância social, e de sua cada vez mais constante participação em escândalos políticos e policiais.

É verdade que os tempos mudam e que, talvez, no aproximemos do tempo do fim, conforme anunciado nas escrituras, a qual alerta sobre a falta de amor que imperaria na vida de muitos, porém também não restam dúvidas de que o neopentecostalismo tem contribuído sobremaneira a esse quadro, sendo grande responsável pelo relativismo teológico e seu consequente esfriamento espiritual.

Ora, o Evangelho de Jesus Cristo é salvação para aquele que crê (Rm 1:16), não dinheiro no bolso, porém essa verdade tem sido revertida em muitos púlpitos mundo afora, assim como em Rio Branco, adquirindo uma nova roupagem: a de que Cristo morreu para que ainda nesta vida, alcançássemos a tão sonhada vida abundante, numa perspectiva totalmente material e terrena.

Em vista disso, a igreja tem se tornado cada vez mais parecida com o mundo, e sobre isso John Stott[2] afirma:

Urge que não somente vejamos, mas também sintamos, a grandeza dessa tragédia, pois, na medida em que uma igreja se conforme com o mundo, e as duas comunidades pareçam ser meramente duas versões da mesma coisa, essa igreja está contra­dizendo a sua verdadeira identidade. Nenhum comentário po­deria ser mais prejudicial para o cristão do que as palavras: "Mas você não édiferente das outras pessoas! (STOTT, John. Contracultura cristã. ABU Editora, 1981, p. 8)

Portanto urge que a igreja abandone o excesso de tolerância e que haja um posicionamento claro e incisivo contra essa abertura teológica que, embora acompanhe o discurso de aprimoramento e renovação da igreja e da pregação bíblica, a fim de dar respostas contemporâneas aos problemas da humanidade, está na verdade causando um enfraquecimento da Igreja, modificando seu caráter e substituindo seu alvo que sempre foi, é e continuará sendo, o Reino ainda invisível de Deus.

OBS.: Escrevi os últimos posts considerando que haja uma clara ideia do que prega o movimento neopentecostal, uma vez que aqui mesmo no blog há artigos à exaustão referentes a seus dogmas, doutrinas e práticas.


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[1] Rave é um tipo de festa que acontece em sítios (longe dos centros urbanos) ou galpões, com música eletrônica. É um evento de longa duração, normalmente acima de 12 horas, onde DJs e artistas plásticos, visuais e performáticos apresentam seus trabalhos, interagindo, dessa forma, com o público. 
[2] John Robert Walmsley Stott,  (1921–2011) foi um líder anglicano britânico, conhecido como uma das grandes lideranças mundiais evangélicas. Foi um dos principais autores do pacto de Lausana, em 1974. Em 2005, a revista Time classificou Stott entre as 100 pessoas mais influentes do mundo.