Por Ruy Cavalcante


Já escrevi bastante aqui no blog sobre as características da nossa geração cristã, mas até certo ponto fui omisso quanto à outra delas, o relativismo.

O interessante (ou o mais absurdo) é que esta (má) qualidade infere especialmente sobre o grupo de cristãos que arrogam para si o título de defensores da fé, ou apologetas, grupo este que também sou arrogante ao ponto de me incluir.

Percebo que muitos de nós nutrimos pensamentos demasiadamente libertinos em relação a assuntos que outrora eram consenso, como a bebida alcoólica, as vestimentas, o sexo no namoro, o uso de palavras torpes, entre outros temas considerados (agora) por demais ultrapassados.

No lugar de apologias à fé fazem apologia à bebida alcoólica, por exemplo, como se o primeiro gole para alguns não fosse mais capaz de causar a “falência múltipla de corações” como é facilmente observado em famílias onde ele penetrou e que hoje lutam contra uma doença incurável (porém controlável), como é a dependência.

Não bastasse isso, também costumamos ensinar um estilo de vida “cristão boêmio” e nessa onda freqüentamos barzinhos com os amigos da faculdade, da igreja, das “antigas” e de onde mais aparecerem, sempre com a desculpa de que isso não afeta nossa espiritualidade, pois se não amarmos nossos amigos, se não entrarmos em comunhão com eles, como poderão ver eles Cristo em nós? E, enquanto curtimos a vida adoidado, em nossa volta, nas esquinas dos mesmos bares estão pessoas sedentas, não por cerveja, mas por Cristo, morrendo, se perdendo, porque estamos ocupados demais tentando “influenciar” nossos amigos.

Eu pergunto: quem foi que disse que a vida cristã precisa ser divertida? Que ensinou que a liberdade cristã refere-se a práticas e não a escravidão pelo pecado? Quem precisa de álcool, falar “palavrões”, transar ou curtir um “biquininho” na praia para ser feliz, para se encontrar com Cristo?

Não era assim que agiam nossos pais na fé, não era em diversão que eles pensavam diariamente. O que percorriam seus pensamentos e suas práticas era o desejo de servir a Deus, negando-se a si mesmos se fosse preciso, sofrendo perseguição, açoites e escárnio por amor de Jesus, na esperança de conseguir anunciar tão grande salvação advinda do sacrifício do Cordeiro.

Nossa liberdade não pode, em nenhuma circunstância, dar ocasião ao pecado nem tampouco legitimar uma vida boêmia, que busca satisfação pessoal, antes ela nos obriga a viver em “novidade de vida” e imagino que não é preciso explicar o significado desta expressão.

Sobreveio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor. Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”. (Rm 5:20-21; 6:1-4)

Incomoda-me o fato de estarmos cada dia mais parecidos com o que éramos antes de conhecer Cristo. A matemática divina diz que a proporção deve ser inversa, e seguindo uma fórmula de progressão geométrica, pois como vimos nos versos acima “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (ou deveria superabundar).

Sei que este texto parece arcaico, careta, exagerado e “down”. Sei ainda que não posso me colocar como exemplo de todos os meus textos, mas como alvo. Mas também sei, com toda a convicção que me é possível, que é vivendo um retorno ao antigo, ao velho, ao careta Evangelho de Jesus Cristo (e não só conjugando o verbo ‘retornar’ em todas as pessoas e tempos em nossos blogs) que as coisas podem melhorar e que a nossa geração não terá se levantado em vão.

E se der tempo, nos divertiremos. Mas se não der, ainda assim teremos uma eternidade linda para aproveitar abundantemente...

E que Deus nos abençoe com um bom juízo e vergonha na cara.