Por Ruy Cavalcante

            Conclui o post anterior afirmando que boa parte dos evangélicos que compõem o crescimento da igreja, em Rio Branco, “aderiram” ao cristianismo enganados por um falso evangelho.
            Disse isso, pois é justamente o que muitos são: simples adeptos. Adeptos e não servos, pois é o que a confissão positiva e a teologia da prosperidade geram: pessoas adeptas de uma visão, de uma promessa de prosperidade, honra e vitória, mas que muitas vezes não estão dispostas a simplesmente servir ao próximo, sem que isso signifique alcançar algum tipo de benefício terreno. Servir apenas por amor não é mais tão natural. A mensagem é clara, sem Evangelho genuíno não há cristão verdadeiro.

Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. ​Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê”. (Rm 10:3-4)

            Existe ainda outra informação sintomática. A igreja evangélica rio-branquense não tem mais “caído na graça do povo[1]”, conforme era característica da igreja primitiva, embora esse fenômeno não seja apenas local. Entretanto, o que motiva esta certa repulsa promovida pela população não evangélica contra a igreja protestante, não é uma variação da perseguição religiosa pela qual, historicamente, o cristão evangélico sempre foi vítima, mas sim as atitudes dúbias e discutíveis tomadas por estes. Na prática, os evangélicos são acusados de não viverem o que pregam, ou de usar a religião em benefício próprio através de doutrinas espúrias, na maioria das vezes relacionando as bênçãos de Deus com contribuições financeiras.
            Nesta perspectiva, realizei uma pequena pesquisa entre pessoas não evangélicas, Moradoras de Rio Branco. Elas responderam a seguinte questão: Qual a sua visão em relação à população evangélica de Rio Branco, do ponto de vista de sua relevância social e de sua postura enquanto representantes de Deus?
            Vejamos algumas das respostas mais repetidas:

“Hodiernamente, ser evangélico “está na moda”. A grande maioria das pessoas frequentam igrejas evangélicas por mero oportunismo e conveniências pessoais. Os que se autointitulam “evangélicos” formam tão somente mais uma das milhares de religiões, ou seja, um conglomerado de pessoas que buscam, nada mais nada menos que seguir confortáveis doutrinas elaboradas por grupos de “estrategistas”, de maneira a difundir uma nova devoção religiosa, a partir da qual se vive passivamente uma suposta vida “cristã”. Em geral, “ser evangélico” está muito mais relacionado a questões puramente estratégicas” (Antônio Silvestre, morador do Bairro Tucumã, via Facebook).

“Acredito que o amor a Deus e ao próximo seja o que menos têm importado para muitos pastores e igrejas. O que se quer mostrar são quantos líderes aquela igreja possui, quantos discípulos aquele líder já tem, o número de fieis que têm contribuído com o dízimo, e coisas assim. É quase como um plano de metas do governo, onde pesa as estatísticas e não a real importância de Deus na vida das pessoas. Tanto que, o que mais temos visto nos últimos dias, são "evangélicos" cometendo crimes (...) E vou um pouco mais a fundo, algumas igrejas estão formando hipócritas, pessoas que pregam a fé, mas que na prática, por debaixo dos panos, agem de forma completamente contrária àquilo que vivem dentro da igreja. Do que adianta? É muito fácil ser "crente" desse jeito. É muito fácil criticar pessoas, julgar-se superior por não beber, não fumar, não ir a festas, e estar todos os domingos na igreja, dizendo a todos que pagou os R$300,00 e foi para o pré encontro, o encontro, o pós encontro e tudo mais; mas na vida mesmo, não coloca em prática nada que deveria aprender na bíblia” (Vanessa Cordeiro, moradora do Bairro Bosque, via email).

“Tenho vários amigos e colegas evangélicos e em geral gosto muito deles. Alguns têm uma postura exemplar. Entretanto, verifico que existe um segmento (grande) de protestantes que estão passando pelo mesmo  processo que acometeu os católicos, qual seja: estão misturando fé com as “coisas do mundo”. Não consigo diferenciar um católico de uma “pessoa do mundo”, por exemplo. Da mesma forma, hoje em dia tenho dificuldades para diferenciar um evangélico de um não-evangélico. Qualquer um se autodenomina protestante. Tenho encontrado pessoas que possuem postura, comportamento e valores que não condizem com os valores cristãos. O discurso não está em sintonia com as praticas. Particularmente nunca conheci alguém que conseguisse seguir em 100% tudo o que está na Bíblia, mas conheço algumas (pouquíssimas) que estão bem próximas disso, mas a maioria dos protestantes está muito distante desta realidade. Não vivem o que pregam e, pior, parecem não se dar conta disso. A comunidade protestante cresce de forma astronômica em nossa cidade, em nosso estado e em nosso país, entretanto, não conseguimos enxergar mudanças positivas dentro de nossa sociedade. A corrupção, a individualidade, o materialismo, a falta de solidariedade e a degradação familiar continuam prevalecendo nas relações entre as pessoas. Se o número de evangélicos está aumentando o correto seria que todas estas coisas citadas anteriormente diminuíssem e que a vida em sociedade melhorasse, mas não é o que se observa. Nós ainda somos um país de políticos e de cidadãos corruptos” (Francisco Progênio, morador do Bairro 06 de Agosto, via email).

            A imagem da igreja evangélica está tão arranhada diante da sociedade, que não houve sequer um entrevistado que a tenha elogiado. Podemos observar nas respostas supracitadas que, ainda que reconheçam existir cristãos genuínos, a população não considera que a igreja esteja cumprindo seu papel de agente transformador da sociedade, através do amor, da justiça e do testemunho cristão, ou seja, a igreja não tem sido vitoriosa em seu papel de representar Cristo, e esse testemunho é dado pela própria comunidade rio-branquense.

No próximo post concluirei esta análise, ciente de que é responsabilidade de todos nós, cristãos evangélicos, resgatar a pureza do evangelho puro e simples em nossa tão amada Rio Branco. Espero ardentemente que, ainda que discordem de minhas afirmações,  isto sirva para fazer-nos refletir sobre o nosso papel como representantes de Deus, pois é isso que afirmamos ser.

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[1] Termo que expressa a empatia com que o povo observava a igreja da época dos apóstolos, descrito em Atos 2:47.