Por Ruy Cavalcante

“As igrejas Neopentecostais realizaram as mais profundas acomodações à sociedade (se pensarmos em termos de mutações do protestantismo através dos tempos), abandonando vários traços sectários, hábitos ascéticos e o velho estereótipo pelo qual os “crentes” eram reconhecidos e, implacavelmente, estigmatizados, abolindo certas marcas distintivas e tradicionais de sua religião, propondo novos ritos, crenças e práticas, dando ares mais brandos aos costumes e comportamentos como em relação às vestimentas. O prefixo “neo” é utilizado para marcar sua recente formação, bem como seu caráter de “novidade” dentro do protestantismo, mais especificamente do pentecostalismo”[1].

            A citação acima foi escrita pelo Doutor em Sociologia Paulo Silvino Ribeiro, ao analisar o surgimento do neopentecostalismo no Brasil. Durante sua análise ele explicita grandes mudanças comportamentais entre os crentes neopentecostais, em relação aos antigos estereótipos pelos quais a população evangélica era reconhecida. O velho deu lugar ao novo. Os velhos costumes e a ortodoxia deram lugar a novas práticas e a uma abertura teológica poucas vezes vistas na história do cristianismo. Infelizmente a consequência dessa transformação não é nada agradável.
            Em Rio Branco, esta transformação encontra-se bastante evidente, mais ainda do que noutras cidades brasileiras, por uma razão simples: Rio Branco é a única capital do Brasil onde a quantidade de evangélicos é praticamente igual ao numero de católicos, isso de acordo com o Censo 2010, do IBGE. Ainda de acordo com a referida pesquisa, a projeção é que, neste ano de 2012, o número de evangélicos tenha ultrapassado 50% da população rio-branquense.
            Vamos analisar alguns dados importantes do Censo 2010, sobre a quantidade de evangélicos na capital acreana, em comparação aos católicos, na figura que segue:

Figura 1 – Porcentagem de católicos e evangélicos em relação à população total residente em Rio Branco.

            Note que em 2010 a quantidade de evangélicos era de apenas 294 pessoas a menos que a quantidade total de católicos, algo inconcebível apenas uma década atrás. Em comparação com os dados do Censo 2000, houve um crescimento extremamente acelerado da igreja evangélica em apenas 10 anos, conforme as figuras 1, 2 e 3:

Figura 2 – População total de Rio Branco no ano 2000.

Figura 3 – Porcentagem de evangélicos por capital, em relação à população total.

            De acordo com a figura 3, no ano 2000, a população evangélica em Rio Branco somava 23,27% da população. Considerando que (conforme a figura 2) a população total de Rio Branco era de 253.059 habitantes, o número absoluto de evangélicos era de aproximadamente 58886 pessoas. Dessa forma, em apenas 10 anos, entre o ano 2000 e 2010, houve um crescimento de mais de 220% da população evangélica em Rio Branco. A maior parte desse crescimento deve-se, sem dúvidas, ao advento do neopentecostalismo, em especial às igrejas adeptas do G12, além das congregações da IURD e IMPD.
            Dessa forma fica evidenciado o que já afirmamos outrora: desde a década de 90, com a chegada do neopentecostalismo na capital acreana, houve um crescimento exponencial do número de evangélicos como jamais visto em nenhuma outra era do cristianismo, nem no âmbito local, tampouco nacional.
            Este crescimento gerou mudanças significativas na cultura local. De minoria estereotipada a maioria formadora de opiniões e movimentadora de mercado, é como se encontra a população evangélica de Rio Branco. Hoje não se caminha mais pelas ruas da capital acreana sem se deparar com propagandas especificas para esta fatia populacional. Existem rádios evangélicas locais, programas de televisão evangélicos, exposições de produtos e shows gospels patrocinados pelo poder público. Aliás, o poder público tem sido compelido a desenvolver políticas e melhorias que beneficiem especificamente a população evangélica, como é o caso de um recente projeto estadual que prevê a construção de um “Parque Gospel[2]”, que visa a realização de ações eclesiásticas e trabalhos sociais desenvolvidos pelas igrejas evangélicas.
            Outro fenômeno interessante, especialmente em tempos de eleição, é a recente “valorização” da comunidade evangélica pelos políticos e candidatos locais, de forma que a grande maioria deles incluem, em seus projetos de campanha, promessas especificas à Igreja Evangélica, além de citar continuamente o nome de Jesus em seus discursos, numa clara tentativa de agrada-la.
            Dessa forma, dado o número elevado de cristãos evangélicos, a comunidade evangélica deixou de ser coadjuvante social para ditar muitas regras. Ela agora tem uma voz e isso notadamente é um grande avanço, se bem utilizado, para o Reino de Deus. Mas na prática, essa vantagem parece não estar gerando claros benefícios para a sociedade rio-branquense, é o que trataremos no próximo artigo. Aguardem!

[1] RIBEIRO, Paulo Silvino. O advento do Neopentecostalismo no Brasil. Disponível em:  http://www.brasilescola.com/sociologia/o-advento-neopentecostalismo-no-brasil.htm

[2] Conforme notícia veiculada no portal “Agencia de Notícias do Acre”, mantida pelo governo estadual, disponível em:  http://www.agencia.ac.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=17119&Itemid=26.