Considerando o que vimos no artigo anterior, e com todos os problemas que surgem pela falta de uma base
doutrinária sólida, bíblica e ortodoxa, não é motivo de espanto que a concepção
do que seria a ‘verdade’ fique comprometida dentro das igrejas neopentecostais.
Tende-se então a considerar como verdade aquilo que funciona, ficando assim o
conhecimento fundamentado na experiência pessoal, naquilo em que a ação do
indivíduo leva a resultados positivos.
A isso a filosofia chama de
pragmatismo. Dessa forma a igreja adepta do movimento neopentecostal, à medida em que
abandona sistemas doutrinários ortodoxos, ajunta para si conceitos filosóficos
e atribui a eles a responsabilidade de condução dos rebanhos. Os pragmáticos geralmente defendem que a importância de
uma ideia deve ser medida pela sua utilidade ou eficácia para lidar com um dado
problema e isso é bem característico para os adeptos da teologia da prosperidade. Ora Todos
sabemos que há preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo
é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios
fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”[1].
Em Rio
Branco este pragmatismo exacerbado fica bastante evidente. É bem claro no dia a
dia da cidade a forma como os sistemas religiosos evangélicos tem sido, no
decorrer dos anos, orientados a resultados. Desde as pregações, em sua maioria
constituindo-se apenas num emaranhado de frases de efeitos, motivacionais,
anunciando promessas de vitórias, prosperidades, passando pelas canções entoadas nos
cultos, congressos e seminários, todas elas direcionadas ao crescimento, ao que
o povo deseja ouvir, àquilo que os manterá firmes em suas decisões de
participar de um congregação.
Dessa
forma vemos diariamente, poe exemplo, o anúncio de festas gospeis com objetivo único de
promover entretenimento ao jovem cristão, numa clara substituição dos prazeres
mundanos por um prazer “santificado”, por assim dizer, bem diferente da ordem de
auto negação imposta por Cristo aos seus seguidores (Mateus 16:24). Também é
possível observar claramente nas rádios locais, que grande parte da programação
serve apenas para massagear o ego dos ouvintes, uma vez que é exatamente isso
que o povo gosta de ouvir, independentemente se o que se ouve é uma verdade
bíblica ou não. O importante é que “isso funciona”, e a prova é o crescimento
das igrejas e da audiência das rádios evangélicas locais.
Além
disso são promovidos constantes seminários e congressos em Rio Branco, em sua
grande maioria para tratar de assuntos periféricos ao Evangelho, como
prosperidade financeira, curas espirituais, experiencias sobrenaturais,
adorações proféticas e tudo o mais que for identificado como agradável à
população, para que esta decida fazer parte da “classe dos evangélicos”,
tornando-as pessoas com grande identificação com as igrejas, mas com pouca ou
nenhuma identificação com Cristo.
Enfim,
hoje em Rio Branco, vivesse um momento crítico, do ponto de vista da igreja
protestante, uma vez que a maior parte da comunidade cristã evangélica é adepta
do movimento neopentecostal, e tem conduzido suas estratégias de evangelismo de maneira que
sejam atraentes não pelo Evangelho puro e simples, mas pela ilusão que
promessas vazias e antibíblicas causam na população, pois é isso que tem
funcionado, tanto que a igreja tem crescido numa proporção jamais vista, e a
menor crítica a esse pragmatismo é considerada uma tentativa satânica de
impedir o progresso da igreja. Não importa mais o que é certo, mas sim o que dá
certo, e estas estratégias têm sido canonizadas pela população evangélica
rio branquense.
[1] HORTON, Michael. Pragmatismo religioso. Publicado na Revista O Presbiteriano Conservador, na edição
de Maio/Junho de 1997.
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