A falta de uma teologia bem estabelecida sobre princípios
coesos e em harmonia com a bíblia, associada ao pragmatismo predominante no
movimento Neopentecostal deixam as igrejas, influenciadas por ele, desprotegidas quanto aos
perigos do sincretismo religioso[1].
Hoje, em
Rio Branco, a forma mais comum pelo qual esse sincretismo acontece é, sem
dúvidas, entre as igrejas da visão G12 (ou M12), com sua visível mistura de
doutrinas judaicas com o universo cristão descrito tão claramente no Novo
Testamento, em relação à doutrina dos apóstolos, que nada mais é que uma
releitura das práticas judaicas já envelhecidas (Hb 8:13). Consideremos o que o
autor de Hebreus narra a respeito do Novo Pacto em Cristo:
Se ele estivesse na terra, nem seria sumo sacerdote, visto que já
existem aqueles que apresentam as ofertas prescritas pela lei. Eles servem num santuário que é cópia e sombra daquele que está nos céus,
já que Moisés foi avisado quando estava para construir o tabernáculo:
"Tenha o cuidado de fazer tudo segundo o modelo que lhe foi mostrado no
monte". Agora, porém, o ministério que Jesus recebeu é superior ao deles, assim como também a aliança da qual ele é mediador é superior à antiga, sendo baseada
em promessas superiores.
(Hebreus 8:4-6, NVI, grifo meu).
E ainda:
A Lei traz apenas uma sombra dos
benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos. Por isso ela nunca
consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os
que se aproximam para adorar. Se pudesse fazê-lo, não deixariam de ser
oferecidos? Pois os adoradores, tendo sido purificados uma vez por todas, não
mais se sentiriam culpados de seus pecados. Contudo,
esses sacrifícios são uma recordação anual dos pecados, pois é
impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados (Hebreus 10:1-4, NVI, grifo
meu).
Dessa
forma, a lei mosaica, base primordial da religião judaica, trata-se de algo
limitado, que simplesmente reflete uma aliança superior, a aliança com Cristo,
que por sua vez é a base de sustentação de todo o cristianismo. A esta
afirmação corroboram não apenas os aludidos textos, quanto toda a doutrina
neotestamentária, resgatada pela teologia reformada e pelos pais da fé
cristã.
Entretanto
é comum vermos em Rio Branco o povo de Deus confeccionando arcas[2],
às quais atribuem poderes místicos capazes de “encher de glória” quem as toca.
Vemos também a comemoração de festas judaicas que, na tradição israelense,
apenas apontavam para o Cristo, até que ele viesse, fato este já ocorrido dois
mil anos atrás. Além disso, há um resgate de vestes sacerdotais judaicas e
referencias a inúmeros símbolos da nação de Israel que, como toda a Lei, sempre
eram tipos[3]
de Cristo ou das verdadeiras promessas conquistadas na cruz. Outro exemplo
clássico, observado em boa parte das igrejas neopentecostais de Rio Branco é o
uso do shofar[4],
que até o advento do neopentecostalismo era totalmente alheio ao cristianismo,
sendo absolutamente ignorado no novo testamento cristão, salvo quando se refere
ao toque das trombetas no tempo do fim (Mateus 24:31; I Coríntios 15:52; dentre
outros). De certa forma, o povo honra a Deus com os lábios, mas nega-o com suas
obras, pois ensinam e praticam doutrinas que invalidam a obra de Jesus (Mateus
15:8-9), por puro pragmatismo.
Infelizmente,
o “privilégio” de assimilar doutrinas e rituais de outras religiões não está
limitado às igrejas da visão, pois assim como no restante do Brasil, em Rio
Branco somos bombardeados diuturnamente com rituais outrora restritos às seitas
de origem africana, e isso dentro dos templos.
Como não
lembrar-se das entrevistas com demônios e dos objetos consagrados, que adquirem
poderes espirituais para realizar curas e exorcismos, realizados diariamente
nos diversos templos da IURD e/ou Mundial, práticas típicas dos terreiros da
Umbanda e Candomblé[5]?
Ou ainda das figuras papais (líderes infalíveis e inquestionáveis) presentes na
grande maioria das igrejas Neopentecostais, típicas do catolicismo romano?
A
verdade é que esse movimento gerou na comunidade evangélica rio-branquense (e brasileira) uma
cultura cristã que se adapta à diversidade da população acreana, formada pela
miscigenação de diversas etnias indígenas e povos imigrantes que aqui chegaram
a partir do século XIX[6],
de maneira que a comunidade local sinta-se atraída a tornar-se evangélica, sem
a necessidade de negar antigas práticas religiosas tradicionais às suas
culturas de origem, práticas estas que passam a ser camufladas com uma espécie
de “capa cristã”, mas que na verdade continuam sendo doutrinas espúrias, ainda que travestidas de santidade.
[1] Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão
de concepções religiosas diferentes, ou, a influência exercida por uma religião
nas práticas de uma outra.
[2] A Arca da Aliança é descrita na Bíblia como o objeto em que as tábuas dos Dez mandamentos e outros objetos sagrados teriam sido
guardadas, como também veículo de comunicação entre Deus e
seu povo escolhido.
[3] Tipologia é o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura mostrar, por meio de coisas terrestres as coisas espirituais. Dessa forma encontramos
no Antigo Testamento Deus falando das glórias celestiais através de coisas terrestres, ou seja, TIPOS que revelam o ANTI-TIPO.
[4]
Shofar é um antigo instrumento se sopro israelita, a qual os judeus atribuem
poderes espirituais e proféticos.
[5] BIANCHETTI, Thiago Angelin Lemos. Elementos
de Rituais Afro-brasileiros sob a Ótica de Resignificação Iurdiana: uma
Etnografia dos Exus na Umbanda e na Igreja Universal do Reino de Deus.
Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas, Maceió-AL,
2008.
[6]
PIMENTA, José. A “invenção” do Acre como exemplo de brasilidade. Artigo
publicado na Revista Linguagens Amazônicas, n°2, pp. 27-44, 2003.
2 Comentários
MARAVILHA, Ruy!!
ResponderExcluirIrmão Ruy... Limaram jeremias 3:16 - não sei onde colocaram ele, pois a adoração da Arca rola soltinha e à pleno vapor, sendo mais cultuada que Cristo (um absuuuurdooo)!! Se esqueceram de que somos Gentios e não Judeus, e... Pelo o que eu me lembre... Não é no tempo da graça que estamos?? Creio que sim!! Aahha. Dentre outras coisas mais escabrosas nesses tempos Heréticos finais!!! Que Deus continue abençoando a sua inteligência dada por ele - Deus - mesmo!! Amém!! Sara.
ResponderExcluirSomente comentários ofensivos serão moderados. Discordar de mim não é pecado, então discorde à vontade.