Por Ruy Cavalcante

Foram citadas, no artigo anterior, as figuras papais presentes dentro do movimento neopentecostal, herança do catolicismo romano, nascido a partir da fusão entre a igreja cristã do século IV com a monarquia romana, na figura do Imperador Constantino, conforme relatos históricos encontrados à exaustão nas obras especializadas[1].

Em Rio Branco essa identidade monárquica  reivindicada pelos sacerdotes do movimento, tomam proporções extremas. Vejamos mais uma vez o que ensina o apóstolo Rene Terranova, a respeito da autoridade sacerdotal, uma vez que o mesmo exerce grande influência entre a liderança cristã acreana:

(...) o líder deve preservar a identidade do seu líder. Ele nunca deve questionar a identidade de seu mentor, a identidade de sua liderança. No dia em que João Batista fez isso, perdeu a cabeça. Ele que havia preparado o caminho de Jesus, que era primo de Jesus, mas que perdeu o legado da identidade de Jesus, quando entrou na rota da suspeita da identidade de seu líder. “Herodes questionou a identidade de Jesus e foi comido por bichos. João Batista questionou a identidade de seu líder Jesus e por isso perdeu a cabeça. Todo aquele que duvida da identidade do líder perde a legitimidade e o legado da liderança de Jesus” (...)[2]
           
Considerando novamente a falta de estudo e capacitação bíblica dentro de igrejas neopentecostais, fato bem característico em Rio Branco, encontramos aqui uma comunidade evangélica (dentro das referidas igrejas) absolutamente subjugada por seus líderes. Um povo temeroso, incapaz de avaliar o que seus pastores ensinam, conforme o exemplo bereano (Atos 17:10-11), por medo de incorrerem em pecado de rebeldia e assim, sofrerem diversas sanções eclesiásticas mediante essa atitude.

As palavras de Rene Terra Nova chegam a soar ridículas diante de uma análise, ainda que superficial, da real história da morte de João Batista. Diz o texto bíblico que:

Pois o próprio Herodes tinha dado ordens para que prendessem João, o amarrassem e o colocassem na prisão, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual se casara. Porquanto João dizia a Herodes: "Não te é permitido viver com a mulher do teu irmão". Assim, Herodias o odiava e queria matá-lo. Mas não podia fazê-lo, porque Herodes temia a João e o protegia, sabendo que ele era um homem justo e santo; e quando o ouvia, ficava perplexo. Mesmo assim gostava de ouvi-lo. Finalmente chegou uma ocasião oportuna. No seu aniversário, Herodes ofereceu um banquete aos seus líderes mais importantes, aos comandantes militares e às principais personalidades da Galiléia. Quando a filha de Herodias entrou e dançou, agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: "Peça-me qualquer coisa que você quiser, e eu lhe darei". E prometeu-lhe sob juramento: "Seja o que for que me pedir, eu lhe darei, até a metade do meu reino". Ela saiu e disse à sua mãe: "Que pedirei? " "A cabeça de João Batista", respondeu ela. Imediatamente a jovem apressou-se em apresentar-se ao rei com o pedido: "Desejo que me dês agora mesmo a cabeça de João Batista num prato". O rei ficou muito aflito, mas por causa do seu juramento e dos convidados, não quis negar o pedido à jovem. (Marcos 6:17-26, NVI).

Ora, o motivo da decapitação de João Batista foi sua denúncia contra os pecados do rei e não há o menor indício bíblico que dê margens para outro tipo de interpretação. A única explicação lógica para tais deturpações das verdades bíblicas, dão conta da imaginação de líderes dispostos a tudo para governar o rebanho de Cristo através do medo, e uma ovelha que desconhece a voz do verdadeiro Pastor, acaba sempre enganada pelo sussurro dos lobos.

Com uma única afirmação, os líderes neopentecostais, além de deturpar absurdamente as sagradas escrituras, a fim de criar uma doutrina que atribua a eles o direito de não serem questionados, retiram de João Batista um dos maiores créditos de seu ministério, que seria o de denunciar o pecado, mesmo que isso lhe custasse a morte, como de fato custou.

Com tudo isso, além do medo, essa repressão tem causado a perda da identidade da comunidade cristã presente nas igrejas neopentecostais rio-branquenses, uma vez que ficam totalmente entregues aos desmandos de líderes, que determinam tudo em suas vidas, desde escolhas profissionais e relacionamentos, até mesmo decisões cotidianas como a roupa que poderão usar ou os locais onde poderão frequentar, numa clara apoderação das atribuições de Jesus na vida do Cristão, conforme Ele mesmo ensina:

Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos. ​A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus. ​Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo (Mateus 23:8-10, RA).

Posto isso, é mister considerar que Jesus é o único com autoridade sobre a vida integral do ser humano, o que nem sempre se permite ser experimentado hoje em dia, em especial nas comunidades neopentecostais, tornando o povo vulnerável a qualquer vento de doutrina que sopre contra a igreja.



[1] Um exemplo é a obra de Alcides Conejeiro Peres chamada “O catolicismo Romano através dos tempos”.
[2] TERRANOVA, Rene. Preservando a identidade do EU SOU. Disponível em: http://www.reneterranova.com.br/blog/?p=1500.