Por Ruy Cavalcante

Dando continuidade aos artigos sobre os diversos prejuízos causados à Igreja, através do movimento neopentecostal, falarei agora sobre aquele no qual mais nos apegamos. Toda essa gama de informações doutrinárias, nem sempre verdadeiras (ou quase nunca), oriundas da confissão positiva e da teologia da prosperidade desenvolve um novo sistema filosófico dentro das igrejas neopentecostais, a saber, o triunfalismo. Quando envoltos a esta filosofia, a igreja tende a apresentar excessiva e absoluta confiança no sucesso terreno, e é exatamente assim que as igrejas neopentecostais em Rio Branco agem e tentam influenciar aquelas que ainda não se convenceram do valor atribuído ao movimento.

Os grupos locais, formados dentro das redes sociais são um bom termômetro para observarmos isso. Frases de efeito, bradando sobre vitórias, são repetidas como mantras, insistentemente, entre seus adeptos. As mais comuns[1] são do tipo “crente não conhece derrota!”, “crente nasceu para vencer!”, “você é cabeça e não cauda!” e outras afins que, não obstante os ensinamentos bíblicos, fazem sempre referência a conquistas terrenas.

Dessa forma, tem sido criada uma cosmovisão deturpada entre boa parte da comunidade evangélica rio-branquense (e brasileira) sobre o tema “vitória cristã”, de forma que até mesmo as estratégias de evangelismo se apegam a promessas vazias, proselitismos[2] e chavões de vitória, tentando convencer a população de que, uma vez convertido, todos os problemas do indivíduo serão resolvidos.

Maurício Zágari, jornalista, teólogo e escritor premiado, em seu recente livro “A verdadeira vitória do cristão” desconstrói esse pensamento triunfalista de maneira extremamente coesa, extraindo aquilo que a bíblia realmente afirma sobre o triunfo que Deus promete a cada um de seus filhos. Ele diz:

(...) nós nos tornamos vitoriosos como herdeiros da vitória de Deus sobre o mundo, o diabo e a morte. E, ao se tornar vitorioso sobre a morte, Jesus nos torna vitoriosos sobre a morte. Com isso, ao triunfarmos sobre a morte, pelo sangue de Cristo, recebemos como vitória a vida eterna.
Ao compreendermos essa realidade, podemos dizer sem medo a frase “a vitória é nossa, pelo sangue de Jesus”, desde que entendamos que o que estamos dizendo é: “O sangue de Jesus, derramado na cruz do Calvário, nos deu a vitória, que é a vida eterna” (ZÁGARI, 2012, p. 98).

Nessa mesma perspectiva, Jesus afirma: "Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo" (Jo 13:33, NVI). Jesus deixa claro que o nosso triunfo não é terreno, afirmando que enquanto estivermos neste mundo, as aflições serão inevitáveis, porém temos uma grande esperança, a grande mensagem do Evangelho, a de que um dia todo sofrimento cessará, e habitaremos livres e triunfantes com Cristo em seu Reino.

É verdade que Deus nos abençoa, ainda nesta vida, de várias maneiras, Ele nos dá vitória e triunfos em diversas áreas, porém essa não é a ênfase do Evangelho e nem uma garantia, pois estamos completamente sujeitos à vontade de Deus e Ele, de fato, abençoa a quem quer:

Como está escrito: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú". E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão". Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus. (Rm 9:13-16, NVI, grifo meu).

Dessa forma, fica claro perceber que todo realce dado a conquistas terrenas, em detrimento da verdadeira vitória do cristão, que é a salvação através do sacrifício de Jesus, é falsa e gera graves consequências para o povo que é envolvido por essa visão turva, ineficaz, e que não tem poder algum contra o pecado.



[1] Conforme pode-se observar no Facebook, a rede social mais popular entre os cristãos evangélicos de Rio Branco, e em sites e blogs evangélicos da capital como o “Acre Gospel”.
[2]  Proselitismo religioso é o intento, zelo, diligência, empenho ativista de converter uma ou várias pessoas a uma determinada religião através da argumentação.