Por Ruy Cavalcante

Finalizando esta série de artigos em alusão ao dia da Reforma Protestante, que se comemora hoje, dia 31 de outubro, a última consequência do movimento neopentecostal sobre a comunidade evangélica acreana (e brasileira) que trataremos neste trabalho, é a importância exagerada, quase canônica[1], que as igrejas adeptas do movimento atribuem às experiências pessoais, em especial aquelas supostamente sobrenaturais.

Esse empirismo[2] é a principal base de sustentação para todas as falsas doutrinas que acompanham o movimento neopentecostal. Por exemplo, quando se anuncia a prosperidade financeira como uma promessa de Deus à igreja, estas afirmações são perpetuadas pela experiência pessoal de pessoas que de fato prosperaram após suas conversões. Dessa forma ignorasse completamente as incontáveis famílias que não alcançaram tal “benção”, para enfatizar a veracidade de tais doutrinas através da vida de minorias.

Entretanto, a bíblia é clara quando afirma que “Deus não faz acepção de pessoas”. Ora, se de fato a prosperidade financeira fosse uma promessa de Deus à igreja, não haveriam exceções, não alcançariam esta promessa apenas uma parcela mínima da população evangélica, especialmente quando esse grupo, na prática, nem sempre possui um testemunho de fidelidade cristã.

Infelizmente a comunidade evangélica rio-branquense tem se deixado conduzir muitas vezes apenas por experiências pessoais, deixando a Palavra imutável de Deus em segundo plano, e não aceita as verdade ali contidas, exceto aquelas que são interessantes aos seus desejos pessoais.

Porém a ênfase nas experiências vai muito além da questão da prosperidade. Manifestações alheias ao evangelho são comuns, nos cultos neopentecostais, o que em Rio Branco não poderia ser diferente. Entretanto, a bíblia diz que:

Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” (I Co 12:6-7, NVI).

            Em outras traduções temos:

E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. ​A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso (JFA-RA).

E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil (JFA-RC).

Dessa forma, a Palavra de Deus não nega que existam manifestações espirituais, porém limita aquelas que são de fato realizadas pelo Espírito Santo ao campo da utilidade e do bem comum a todos, ou seja, não se trata de manifestações pessoais, mas operações do Espírito que beneficiam a todos da congregação, de forma que haja alguma utilidade prática para a vida cristã, o que nem sempre (ou quase nunca) tem acontecido nas manifestações carismáticas em igrejas neopentecostais da capital acreana.

É possível ver constantemente pessoas “caindo no poder”, falando em línguas desordenadamente, trazendo a todo instante novas revelações e profecias, afirmando terem sido arrebatadas no culto, ou ainda sendo tomadas por 'unções extravagantes', e diversas outras experiências que quase nunca trazem consigo proveito algum para a igreja, apenas criam uma atmosfera supostamente espiritual, sobrenatural, e tornam “especiais” as pessoas que alegam ter experimentado tais manifestações. Isso tudo acaba gerando uma corrida em busca deste “sobrenatural”, para que, aquelas que não experimentaram, não sejam consideradas carnais, o que geralmente acontece.

Assim, de experiência em experiência, a igreja vai sendo conduzida por caminhos nem sempre aprovados pelo Evangelho de Jesus Cristo, de forma que passam a ser consideradas tão ou mais importantes para a igreja do que a revelação escrita. Este erro é cometido pela maior parte das seitas existentes que, em determinado momento da história, seus pioneiros viveram experiências sobrenaturais, inexplicáveis e, deixando de lado os conselhos bíblicos, se entregaram àquelas manifestações e delas desenvolveram novos sistemas religiosos pseudo cristãos.

Assim finalizo esta série de artigos, convicto de que necessitamos de um retorno ao Evangelho puro e simples de Jesus, retomando as bases do protestantismo e, sem demora, afastando todo ensinamento contrário às sagradas escrituras, ainda que promovam uma explosão de milagres.

“Todo ensinamento contrário às Sagradas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres." (Martinho Lutero)




[1] Canônico é um adjetivo que caracteriza aquilo que está de acordo com os cânones, com as normas estabelecidas ou convencionadas e é por isso considerado aprovado, verdadeiro. A bíblia cristã é formada pelo Canon bíblico, ou seja, os livros considerados verdadeiramente inspirados por Deus.
[2] Empirismo é um movimento que acredita nas experiências como únicas (ou principais) formadoras das idéias, discordando, portanto, da noção de idéias inatas. No empirismo, a sabedoria é adquirida por percepções.