Por Ruy Cavalcante
A
atratividade dos novos conceitos trazidos pelo movimento neopentecostal, cujo carro chefe é, sem dúvidas, a Teologia da Prosperidade, encontrou um Brasil de braços abertos. Nossa população pobre e humilde tem sido
rapidamente influenciada pelas promessas de prosperidade, tranqüilidade e honra
que este movimento prega e defende, afinal de contas, quem não gostaria de ter
a solução imediata de seus problemas, a cura de suas doenças e a “engorda” de
suas contas bancárias? Além disso, a ideia de que podemos conquistar o que
desejarmos com o poder de nossas próprias palavras é um encanto difícil de ser
ignorado.
Pensando nisso, falarei neste e nos próximos artigos, um pouco sobre as consequências deste movimento no Brasil, e em especial, em Rio Branco/AC.
Inicio então com a primeira delas: O abandono progressivo da ortodoxia.
Não é difícil entender o motivo pelo qual a maioria
esmagadora das igrejas neopentecostais vem abandonando, progressivamente, os
estudos bíblicos, encerrando as tradicionais escolas bíblicas dominicais, e
desencorajando seus membros de cursarem faculdades e seminários teológicos.
Dadas as inovações doutrinárias controversas, sem bases genuinamente bíblicas,
os líderes do movimento sabem que um estudo aprofundado da bíblia geraria
inúmeros conflitos internos, o que não seria saudável para o crescimento que se
busca com tais novidades, do ponto de vista teológico.
Em lugar
das escolas bíblicas, como uma forma de compensação, algumas destas igrejas
introduzem grupos de estudos e escolas teológicas que nada mais são que
reprodutoras dos conceitos neopentecostais que se desejam fortalecer no âmbito
eclesiástico. Dessa forma surgem as chamadas “escolas de líderes[1]”,
“escolas do sobrenatural”, “seminários proféticos”, dentre outras nomenclaturas
que de nada lembram os tradicionais estudos transmitidos nas EBD’s. Nestes
novos ambientes de estudo, aprende-se noções e conceitos de liderança, não mais
conforme a tradição bíblica, de servir para ser grande, mas em acordo com os
pensamentos de conquista e honra, que servem para criar, no senso comum dos
crentes, a ideia de infabilidade e governança absoluta dos lideres que, dessa
maneira, não podem jamais ser questionados, sob pena de incorrerem em pecado de
rebeldia. Dessa forma a obediência é gerada pelo medo, não pelo amor.
Jesus
nos dá a formula de liderança que deveríamos viver, quando diz:
Jesus os chamou
e disse: "Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as
pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se
importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser
escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos" (NVI, grifo nosso).
Contrariamente a isso, o apóstolo
René Terra Nova afirma que “para
você ter êxito na sua liderança, organize-se, sabendo que tem autoridade sobre
as causas físicas e espirituais. Você tem poder para organizar as coisas. Foi
Deus quem mandou você dominar a Terra[2]”.
Ele afirma ainda que:
Quando
Deus criou o homem, na sua imagem e semelhança, soprou o fôlego de vida, olhou
nos olhos, e disse: GOVERNA! Esta é a ordem de Deus. Quero advertir que quem
não governa é governado, e quem não lidera é liderado. Quem não domina, será
dominado, por isso tome posse de seus territórios[3].
Não obstante os ensinos de Cristo, o
movimento neopentecostal atribui aos líderes poderes extremos, a ponto de
exigir que se paguem primícias de seus bens, para uso exclusivo deles, como
maneira de obedecer ao princípio da honra, e assim adquirir o direito de
ser abençoado por Deus, conforme dito pelo mesmo apóstolo, em mais um de seus
estudos:
Muitos ganham por entregar em fidelidade o dízimo, outros
prosperam em entregar a oferta, mas outros tantos que dizimam e ofertam perdem
tudo por não terem a sabedoria de não guardar o princípio da primícia. É a
primícia que traz a honra e libera o favor do eterno. Deus nunca travou uma
guerra com ninguém sobre nada a não ser mover-se na terra por causa das
primícias[4].
(...) não tem como dizermos que amamos a Deus se
desprezamos os homens que Deus selecionou para cuidarem dos Seus filhos na
Terra. Então, a primícia tem a força do respeito e da honra na direção do líder
[5].
Todos estes
ensinos criam o cenário ideal para que o movimento neopentecostal perpetue seu
sistema doutrinário, uma vez que o medo impede que se questione lideranças,
mesmo as corruptas, ou que submeta suas instruções ao crivo da palavra de Deus,
pois passam a ser considerados autênticos representantes da verdade divina. Bem
diferente do povo de Bereia, o qual o apóstolo Paulo chama de nobres, por
consultarem a bíblia a fim de confirmar se o que estava sendo ensinado por ele
era de fato bíblico (Atos 17:11). É certo que um povo sem conhecimento é conduzido
“para onde o vento soprar” e esta parece ser a estratégia escolhida pelos
líderes neopentecostais, sejam de igrejas do G12, sejam de outras vertentes do
movimento, como é o caso da IURD, onde sequer existem reuniões de estudo, ainda
que deturpados, deixando seus membros sujeitos a tudo que se diz nos púlpitos,
sem a menor condição de análise bíblica aprofundada.
Essa
realidade é perfeitamente observada na capital acreana, a todo instante somos
bombardeados com aberrações doutrinárias, chavões evangélicos que deturpam a
palavra de Deus sendo proferidos em toda parte, crentes sem a menor condição de
debater conceitos teológicos, que se utilizam de ameaças para manter suas
doutrinas isentas de análise, festas gospels que de nada refletem a missão da
igreja e outros desvios consequentes da falta de conhecimento e submissão à
tradição bíblica.
Embora a
gama teológica introduzida pelo neopentecostalismo não se resuma ao que foi
apresentado até aqui, já é possível perceber como a ortodoxia, aos poucos e
continuamente, vem sendo retirado das igrejas adeptas ao movimento, abandonando
assim a tradição apostólica e a teologia reformada, para dar lugar ao novo, ao
que funciona e que possibilita um crescimento massivo da igreja.
[1]
A Escola de Líderes é uma escola de treinamento para os
cristãos que irão passar por todo processo da visão celular.
[2] TERRANOVA, Rene. Líderes por herança e aliança. Disponível em: http://www.reneterranova.com.br/site/content/ministracoes.php?id=4.
[3] TERRANOVA, Rene. Nasceu o governo do Justo. Disponível em: http://www.reneterranova.com.br/site/content/ministracoes.php?id=14.
[4] TERRANOVA, Rene. O Princípio da Semeadura, o Poder da Semente. Disponível em: http://www.reneterranova.com.br/site/content/ministracoes.php?id=45.
[5]
TERRANOVA, Rene. Pensamento do Eterno sobre as Primícias. Disponível em: http://www.reneterranova.com.br/site/content/ministracoes.php?id=44.
2 Comentários
Esses desvios doutrinários sempre me levam a uma cena épica do filme "O Advogado do Diabo", onde Robert De Niro, no papel do inimigo pronuncia: "Ah... Vaidade! Meu pecado predileto!"
ResponderExcluirExcelente lembrança... ô geração pra gostar de uma ilusão...
ResponderExcluirSomente comentários ofensivos serão moderados. Discordar de mim não é pecado, então discorde à vontade.