Por Ruy Cavalcante

Há algo acontecendo no Brasil que não se pode negar nem mascarar: A igreja evangélica está crescendo, aliás, está crescendo muito, de forma explosiva, numa progressão geométrica cuja ‘razão’ é bem alta (quem lembra as aulas de PA e PG, em matemática, vai entender).

As causas de tal crescimento são muitas, mas infelizmente pouco tem haver com o Evangelho puro e simples (desculpe se parece uma visão fundamentalista). Carecemos de pesquisas científicas a respeito, mas de forma empírica, com um mínimo de atenção, podemos perceber que grande parte desse crescimento, se constitui de pessoas em busca de conforto.

As pessoas estão freqüentando igrejas (e não vivendo como igreja), pois desejam uma vida melhor, com melhores empregos, melhores relacionamentos, melhores bens, mais saúde, mais alegria. Isso tudo é muito bom realmente, mas me preocupa quando este é o objetivo fim de uma vida com Jesus. Fico inquieto ao perceber que, aparentemente, a maioria não entendeu o foco do Evangelho, o motivo pelo qual Jesus foi morto, a intenção de Deus ao executar seu unigênito.

Vou resumir então: Jesus morreu não para que eu tivesse uma boa vida nesta terra, mas para que eu não fosse condenado por causa da ‘boa vida’ que eu levava, antes sobre si mesmo recebeu a justiça (morte) que era contra mim, para que eu vivesse e o servisse para sempre, com ou sem conforto (Rm 6:3; Mc 8:34; Rm 8:36).

Se observarmos a vida dos primeiros discípulos, especialmente dos apóstolos, perceberemos que nenhum deles viveu de forma confortável, isento de problemas e preocupações, aliás, se tem algo que não lhes faltou foram problemas (2 Co 11:23-28; At 16:22-24; 2 Tm 3:12), e isso já seria motivo suficiente para que alguém, com zelo pela verdade, perdesse o crédito em pregações que anunciam uma vida tranqüila, sem dor nem sofrimento, aos que se entregam a Cristo.

Entretanto, não posso negar que em Cristo conquistamos conforto e segurança, não conforme o que as pessoas têm buscado incessantemente, mas um conforto duradouro, definitivo, eterno, assim como a segurança de que isto de fato acontecerá.

Ou seja, em Cristo temos a segurança de que nossos pecados serão perdoados e de que não entraremos em juízo, antes, habitaremos com Ele eternamente, sem dor, sem sofrimento, sem lágrimas, pois ele converterá nosso pranto em riso. Mas não agora, não nesta terra. Na terra temos a segurança, mas o conforto é somente na glória.

Deus pode nos dar conforto aqui e agora? Claro que pode, Ele é Deus e pode fazer o que quiser. Mas isso depende exclusivamente da vontade dEle, não da nossa, pois não existe essa promessa, e nem temos autoridade para exigir nada (precisamos nos enxergar).

Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Romanos 9:15-16).

Nada contra o crescimento, mas que ele ocorra baseado num Evangelho verdadeiro, assim teremos vida, assim teremos paz.