Por Ruy Cavalcante
Após um bom tempo sem escrever no Blog, embora as postagens apologéticas no Facebook e Twitter estejam a mil, enfim retorno buscando esclarecer alguns enganos praticados pela maioria de nós, cristãos evangélicos. Eu mesmo já pratiquei o engodo que questionarei a seguir. O assunto é o ponto inicial da conversão, o que muitos chamam de “aceitar Jesus”, o que por si só é um tremendo engano, pois a verdade é que recebemos (e não aceitamos) Cristo gratuitamente quando alcançados pela Graça de Deus, mas este é um assunto para outro artigo.
Vejamos o que Paulo diz:
“Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo”. (Rm 10:9 - ARA)
Muitos interpretam este texto como se Paulo estivesse ensinando que a conversão do ser humano (e sua consequente salvação) se dá através de um simples processo de declaração afirmativa de que Jesus é Senhor, acreditando em sua ressurreição. Ou seja, ensinam que basta que repitamos uma oração que declare isso, ou mesmo que levantemos as mãos afirmativamente quando nos é indagado se recebemos Jesus como Senhor e salvador de nossas vidas.
Bom, é fato que Paulo diz isso, entretanto é preciso entender que a bíblia é um livro coeso, que se completa a partir de todos os seus ensinamentos, numa única e suficiente verdade. Essa questão traz consigo várias implicações, das quais destaco uma: uma verdade doutrinária não pode ser extraída de um único versículo isolado.
Dessa forma, o entendimento desse único versículo, de forma isolada do restante dos ensinamentos relacionados ao mesmo tema, é exatamente que, para ser salvo, basta que eu afirme que creio em Jesus e o reconheço como Senhor.
Acontece que esta afirmação de Paulo se refere a um segundo momento do processo de conversão, não ao ponto inicial. Ele está se referindo a atitude natural de quem passou pela primeira etapa da conversão (a qual explicarei a seguir) para enfim confessar o que pra ele se torna uma verdade suprema e inegável: Jesus é o Senhor da minha vida, eu creio em sua obra!
Antes de falar sobre este ponto inicial da conversão do indivíduo (falo de coisas internas), lembre-se que tudo começa com a pregação do evangelho genuíno de Jesus Cristo (externa). É a partir desse Evangelho que tudo se torna possível, e para isso é preciso que ele seja pregado e compreendido pelo ser humano (tratarei deste assunto específico nos próximos artigos, aguarde).
Vejamos o que Jesus diz:
“E lhes disse: Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. (Lc 24:46-47 - NVI)
Ora, Jesus não trata o processo de conversão como uma simples declaração de fé. Antes ele afirma que seu evangelho deve ser pregado para que seja gerado arrependimento. Não é possível se arrepender de algo que sequer sabemos que temos culpa, logo a pregação do evangelho envolve o esclarecimento de nossa própria calamidade, nossa completa depravação, nosso estado de rebeldia diante de Deus, de forma que seja gerado um arrependimento genuíno, e um desejo de ser aceito por Deus através de seu perdão.
Tiago se aprofunda um pouco nisso, afirmando que:
“Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará”. (Tg 4:8-10 - NVI)
Claramente Tiago afirma que o arrependimento verdadeiro causa tristeza. O homem quando reconhece sua calamidade diante de Deus se entristece, abandona o sorriso e este só retorna quando recebe o perdão de Deus através da obra redentora de Cristo. Porém não é o que vemos hoje em dia.
A todo instante centenas de pessoas, especialmente jovens, repetem uma oração sem sequer saber o que ela significa, levantam as mãos no culto após um apelo do pregador, sem entender, sem que se reconheçam como impuros, sem nenhum resquício de tristeza. Em geral realizam tal procedimento após pregações que exaltam suas vidas, que lhes prometem incontáveis bênçãos, de forma que a única coisa que se vê é muita alegria e nenhum choro, nenhum quebrantamento, como se fosse possível receber essa obra salvífica sem que nos reconheçamos como autênticos pecadores imperdoáveis, perdidos e miseráveis!
Veja outra afirmação, desta vez do apóstolo Paulo:
"Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte". (2Co 7:9-10 - NVI)
Mais uma vez é feita a relação entre o arrependimento genuíno, que nos conduz a salvação conquistada na cruz, com a tristeza, o quebrantamento, a destruição de nossos sentimentos altivos. Essa tristeza, que vem de Deus, do esclarecimento que Sua Graça redentora nos dá, é que produz o verdadeiro arrependimento!
Só então podemos, sem nenhum engano, sem resquícios de falsidade ou fingimento, declarar que: Jesus Cristo é o Senhor, eu creio nEle, Ele me salva! Aleluia!
Ou seja, este segundo momento declarado por Paulo aos romanos, só é verdadeiro após o ponto inicial que é o arrependimento genuíno gerado pela compreensão do Evangelho poderoso de Jesus Cristo.
Não se engane irmão, nem deixe que outros permaneçam enganados, a verdadeira conversão se inicia na compreensão do Evangelho, o que gera arrependimento genuíno. É preciso entender a cruz, é preciso arrependimento, não há acasos, ou é assim, ou é falso.
“Porque lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não com entendimento”. (Rm 10:2 - ARA)
Deus abençoe a todos.
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