O Estado do Acre passa por uma das maiores enchentes de sua história (possivelmente nos próximos dias se tornará a maior). Alguns municípios encontram-se quase que 100% alagados, como é o caso de Brasiléia e Assis Brasil. Só na capital são, até o momento, 5464 desabrigados nos alojamentos públicos, fora aqueles que estão em casa de parentes, amigos e algumas poucas igrejas e instituições.

Falta de tudo, desde alimentos, roupas, remédios, colchões, material de limpeza, tanto para os abrigos quanto para as diversas famílias que ainda se encontram ilhadas em suas residências, sejam nas cidades ou nas zonas rurais. Os índios passam por apuros ainda maiores, pois são mais suscetíveis a doenças causadas pela água contaminada com dejetos.

No meio disso tudo, o carnaval e, com ele, muita festa, tanto nas vias públicas, quanto nos bares e ainda nos retiros cristãos.

O carnaval contribuiu bastante para que os problemas aumentassem, especialmente para as famílias atingidas pela enchente. Além da ajuda ser menor, dada a preocupação geral em se divertir (tanto nas festas quanto nos retiros “espirituais”), há ainda o sentimento de revolta, pois enquanto uns estão sem luz, sem água, sem comida e sem casa, outros continuam pensando apenas em si mesmos.

Houve um princípio de protesto nas redes sociais pedindo o cancelamento do carnaval na capital, o que gerou revolta de muitos foliantes e no fim, deu em nada. Só para lembrar, o carnaval público (pago com dinheiro público e realizado em local público) aconteceu a 500 metros dos dois bairros mais atingidos pela enchente na capital.

Mas que importa? Não foi comigo então não tenho porque ficar triste e não pular o carnaval. Talvez o mesmo tenha pensado diversas igrejas que se “retiraram” do meio do problema, como quem diz: Não tenho nada com isso.

Sinceramente, eu acho os retiros cristãos ótimos, e uma ótima oportunidade de entrar em comunhão com os irmãos, evangelizar e orar. Mas ajudar os outros é melhor. Bem que poderíamos conciliar as duas coisas, ir aos retiros e organizar equipes diárias para voltar à cidade e ajudar a população nesse momento difícil.

Bom, graças a Deus nem tudo foi decepção. Era possível encontrar dezenas de voluntários anônimos, pessoas comuns, crentes e descrentes, dia e noite, nos abrigos, nos bairros alagados, carregando geladeira, resgatando pessoas, limpando banheiros, cozinhando, resolvendo conflitos, doando alimentos roupas e força de trabalho.

Foi possível observar que o Reino de Deus continua vivo e eficaz, através de irmãos corajosos que abriram mão de momentos de lazer para arriscar a vida e resgatar o sonho de famílias inteiras nas águas do Rio Acre, e isso me fez renovar as forças e aumentar as esperanças de que somos de fato o Reino de Deus em ação.

Que agora, após retiros e carnavais, possamos unir forças, esquecendo o que passou, deixando de lado divergências doutrinárias e placas de igrejas, apenas para ajudar o próximo, obrigação essa que nos assiste, a todos nós, servos de Deus.

E que Deus tenha misericórdia do Acre e abençoe estas famílias que por hora choram...