Por Ruy Cavalcante

Dando continuidade ao post anterior, contarei mais um breve testemunho.

Quando conheci minha esposa não éramos servos de Jesus. Durante o namoro ela foi ao “Encontro” gedozista e ao retornar passamos a freqüentar uma igreja em células. Minha esposa estava grávida, mas ainda não sabíamos. Ao descobrir, durante o terceiro mês de gestação, já havíamos nos entregado a Cristo.

Até então, tudo em minha vida era pecado, pois somente em Cristo somos purificados. Acontece que nossos líderes exigiram que eu separasse de minha esposa, alegando que nosso relacionamento não era da vontade de Deus, por haver sido iniciado sem a confirmação dEle. Ora, qual a pessoa que não serve a Deus pedirá autorização a Ele para se relacionar com alguém?

Meu relacionamento, assim como tudo em minha vida até aquela data, não tinha sido constituído nos moldes cristãos, mas a partir de então, cabia a nós dois cumprir com os propósitos de Deus, oficializando o casamento de acordo com as leis civis e celebrando a vida de nossa filha que chegaria em breve. Eles não aceitaram, disseram que se não foi autorizado por Deus não poderia acontecer e que se insistíssemos eles não mais nos “cobririam espiritualmente”.
Eu já havia freqüentando a igreja evangélica durante alguns anos e isso salvou minha família, pois desde o primeiro dia que pisei numa igreja comecei a ler o que diziam ser o “manual do crente”, ou seja, a bíblia. Nela eu já havia descoberto o caminho e o procedimento correto diante de Deus, mas até aquele momento ainda não havia permitido que aquilo fizesse parte de minha vida. Mas agora era diferente. Eu queria Jesus e queria minha família. Tinha certeza que meu arrependimento faria com que Deus me perdoasse, purificasse meu espírito e transformasse minha família.


"Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus".  (Rm 5:1-2)


Decidi ficar sem “cobertura espiritual” e permanecer com Cristo e com minha família. Hoje continuamos juntos, minha filha fará em setembro sete anos de idade, está no segundo ano escolar, sabe ler, escrever, tem uma família estruturada e conhece a bíblia mais do que muito crente “coberto”. Eu e minha casa servimos ao Senhor na igreja Batista Restauração, cujo pastor Breno Cavalcante é nosso amigo, líder irrepreensível, o qual eu respeito absolutamente em tudo, temos todos os problemas e conflitos relacionados à família, mas somos felizes e Cristo é conosco.

Mas se houvéssemos obedecido nossa cobertura espiritual, que legislava sobre nossa vida pessoal e havia determinado o fim de minha família, como estaríamos hoje?


"Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo". (I Tm 5:8)

Jesus é o nosso Senhor (Rm 5:1; 14:8)e Ele escolheu líderes para nos ajudar a caminhar, não para que nós os ajudássemos em suas caminhadas pessoais ou para que confirmássemos sua liderança obedecendo-os cegamente...

...

Em tempo...

Tenho certeza que minha experiência não é necessariamente o padrão em igrejas evangélicas, especialmente neopentecostais, porém este é mais um exemplo de como esta doutrina extrabíblica da "cobertura espiritual" pode causar danos irreparáveis. Quantos Brasil afora não se depararam com situações semelhantes e obedeceram seus líderes, sob a suposta autoridade concedida a eles por Deus para legislar sobre a vida pessoal das ovelhas, e acabaram mal?

Este artigo não é um tratado em favor da rebeldia e sim em favor do senhorio exclusivo de Cristo sobre as nossas vidas.

E que o nosso absoluto Senhor Jesus nos abençoe.