Por Ruy Cavalcante

Apesar de tantos alardes que ouço quanto a um verdadeiro avivamento estar acontecendo no Brasil, e posso afirmar que os alaridos são bem altos aqui em minha terrinha (Acre), não é bem isso que a prática demonstra.

A prática se apresenta de uma forma bem diferente de um avivamento espiritual, resumindo-se em crescimento explosivo da instituição igreja o que, de fato, não representa necessariamente o crescimento da Igreja enquanto Corpo de Cristo. Mas como posso eu falar algo tão “absurdo” como esse? Como eu, apenas um jovem pecador desconhecido, pode afirmar que esse crescimento não é na verdade um avivamento?

Ora, isso é bem simples. Pelos frutos.

Que frutos têm se observado dessa multidão de evangélicos? Segundo previsão do IBGE, este ano chegaríamos a 55 milhões de cristãos evangélicos no Brasil, e não consigo ver uma transformação genuína na sociedade, pelo contrário, todos os números negativos crescem. A violência nunca foi tão grande e alarmante, assim como a prostituição, a gravidez durante a adolescência, a violência domestica, a corrupção e todos os males da nossa sociedade que, participando de um verdadeiro avivamento, deveriam estar sendo diminuídos na proporção do crescimento da igreja, pelo menos. Mas não conseguimos sequer cair na graça do povo, como antes (At 2:47).

Não se ouve uma única notícia da transformação de um bairro sequer pelo poder do evangelho. Antes vemos a participação cada vez maior de evangélicos nos números da corrupção e escândalos políticos. Outro dia, estando eu de serviço na Delegacia de Flagrantes da capital Rio Branco (sou policial civil nas horas vagas), tive a oportunidade de me deparar com 5 pastores presos numa única ocorrência. O motivo? Saíram literalmente no tapa dentro da igreja por questões de disputa territorial (a igreja de um deles era próximo da igreja dos outros quatro e disputavam membros). Vale tudo pelo “crescimento”.

Não entendo como pode estar havendo um avivamento se as pessoas não estão se amando mais. A instituição igreja tem crescido a passos largos, isso é verdade, mas para que tal realidade fosse possível o evangelho foi relativizado.

Para que as pessoas pudessem ser “atraídas” para as igrejas tudo foi facilitado, não é mais necessário se pregar sobre renúncia e cruz, pois o que as pessoas gostam de ouvir é sobre sucesso e prosperidade e essa é a formula mágica para o crescimento. Pobres apóstolos e pais da Igreja, desconheciam tais “verdades” e por isso sofreram todo tipo de perseguição, cadeia e morte, por amor ao evangelho. Eles não sabiam que fomos chamados para o sucesso terreno.

A ironia se justifica pelo fato de não haver esse tipo de doutrina nas Escrituras. Tomando por exemplo o Apóstolo Paulo, ele jamais relativizou o evangelho para que fosse “mais fácil” seguir a Cristo, mais vantajoso. Ele entendia que a grande vantagem que Cristo nos conquistou foi morrer a morte que era nossa.

A verdade é que o amor não esquentou, mas esfriou. As pessoas não querem mais abrir mão de seus próprios desejos para fazer unicamente a vontade de Deus, uma vez que nem sempre essa vontade é tão divertida assim. As pessoas parecem aceitar Cristo para virarem sócias do “Beach Park” de Jesus, tanto é a quantidade de água que pedem e de eventos que inventam. Porém esquecem que espiritual mesmo, como digo no slogan do Blog, é amar.

Na prática percebo todos os dias a dificuldade que é para os evangélicos se reunirem para fazer algo importante para o Reino de Deus, como evangelizar, se esse procedimento não for divertido, se ele não ocorrer nos eventos da cidade ou com o acompanhamento de grupos de música e teatro para que tudo seja mais animado. Evangelizar nas colônias e bairros pobres? Nem pensar.

As relações também ficaram esquisitas com essa relativização do Evangelho. Não se perdoa mais, nem se pede perdão. Não se ora mais buscando direção de Deus para entrar num relacionamento afetivo (namoro para ficar mais claro) nem se busca amar pessoas que não possibilitem termos alguma vantagem. Amar a Deus acima de todas as coisas, mais do que a nós mesmo, ao ponto de abrirmos mão de alguma coisa por Ele, mesmo que seja uma bobagem com fins de entretenimento, é pura heresia.

Amados não se enganem, se Cristo não governar nossas vidas a ponto de nos transformar e nos converter a Ele, não somos dignos de sermos chamados servos, tampouco filhos, e nossa parte não é com Cristo, mas com aquele que nos oferece os reinos desse mundo.

Pense nisso.

Referências: Mt 16:24; Mt 4:8-9; 1Co 10:24; At 2:47; Jo 13:34; Mt 6:14-15; 2Co 11:16-28.