Por Ruy Cavalcante

Não sei, talvez seja pura falta de conhecimento a respeito de ministérios cristãos, mas sinceramente, não entra na minha cabeça um cidadão que se diz ministro do evangelho ou ministro de louvor (se é que esse ministério existe, biblicamente falando) e cobrar para exercer sua missão. Afinal de contas, ser sustentado pelo ministério, pela igreja é uma coisa, cobrar para “pregar” ou “louvar” é outra completamente diferente, especialmente quando o que se cobra está completamente fora da realidade da sociedade brasileira, algo em torno de algumas dezenas de milhares de reais.

Se considerarmos ainda o fato de que, no fundo no fundo, não se trata de uma pregação ou de um louvor que esses caras “ministram” e sim de “apresentações”, a coisa fica ainda mais absurda. Ora, se eles são de fato ministros cristãos, não há problemas em aceitarem um convite para ministrar em sua igreja local, no seu bairro humilde, com apenas algumas dezenas de membros e dois ou três visitantes, utilizando apenas o equipamento que sua igreja possui. Alguém acredita que eles aceitariam o convite?

Poxa, será que eu sou tão cego assim, que não percebo que confeccionar um contrato registrado em cartório, com cláusulas e multas, para que seja possível a “ministração” destes “ungidos” não é exatamente o que Paulo tentou dizer ao afirmar que “Se semeamos para vós as coisas espirituais, será muito que de vós colhamos as materiais”? Talvez eles, ou nós, não tenhamos paciência de ler o restante do texto, onde ele, juntamente com seus discípulos, afirma não buscar exercer esse direito para que o Evangelho de Cristo não se torne pesado para ninguém e para que não se ponha nenhum impedimento (eu disse NENHUM) ao Evangelho.

Hoje em minha terrinha haverá mais um “Show Gospel”. Mais uma vez a cidade fervilha de evangélicos afoitos para o início das “ministrações”. A entrada (ingresso)? Apenas R$ 10,00. Mas o valor não importa, “é pra Deus”. Queria ver se a galera que estará presente neste evento fosse convidada a doar R$ 10,00 para compra de cestas básicas para um grande evangelismo nos bairros alagados do Estado, se estariam tão elétricos assim para participar. Sei lá, talvez sim. Talvez eu esteja sendo incrédulo demais...

Sempre me acusaram de ser assim mesmo, sem fé. Na verdade eu tenho fé, mas ela encontra bases numa coisa chamada Bíblia...