Por Ruy Cavalcante

Mundanismo é uma palavra que parece haver perdido o sentido depreciativo ou a importância no decorrer dos anos. Quase não se fala mais nisso dentro das igrejas evangélicas por ser algo, digamos, ultrapassado. Porém poucas vezes se viu na história uma igreja tão mundana quanto a de hoje.

Entenda-se mundanismo como o ato de moldar as nossas atitudes, desejos, sonhos e mesmo a nossa conduta de acordo com valores do mundo e não de acordo com a Palavra de Deus (I Jo 2:16-17) o que, para membros da igreja de Cristo deveria ser um absurdo inimaginável. Ao falar sobre esse assunto com meus amigos eu sempre cito um exemplo simples: Hoje em dia quando vamos a um clube de verão ou à praia não é mais possível identificar quem é “crente” ou não, porque muitas vezes os biquínis das irmãs são menores do que o das garotas “mundanas”. Parece uma bobagem, mas eu não consigo visualizar Paulo de sunguinha ou Maria de fio dental, mas fazer o que, se uma marquinha de biquíni possui mais valor no mundo do que as marcas de Cristo (Gl 6:17).

Quando falo de mundanismo na igreja, não me refiro somente aos membros anônimos das mesmas, uma vez que a própria liturgia presente na maioria delas sofre desse mal, conseqüência da contaminação dos líderes. Os cultos são planejados, estruturados e preparados para suprir o desejo dos “ouvintes”. As pregações são verdadeiras palestras motivacionais, as músicas, quanto mais pegajosas, mais “ungidas”, e coitado do “grupo de louvor” se errarem uma notinha que seja, pois não se pode admitir um som que não agrade os ouvidos exigentes dos irmãos. Também não se podem tocar músicas desconhecidas do mercado gospel, pois o sucesso dos super astros, ungidos, quase anjos gospeis indica o tamanho do “mover do espírito” proporcionado por elas, poucos importando a letra das mesmas.

Pregar o evangelho da forma como Jesus ensinou, sem falsas promessas, sem negociar bênçãos, confrontando o pecado, chamando para servir aos outros ao invés de ser servido, considerando-os assim superiores a si mesmo, exortando para uma mudança real de vida não são mais ações “populares” dentro de nossas igrejas. Ninguém quer ser confrontado, incomodado. Essas coisas esvaziam a igreja no lugar de enchê-las. O que se faz hoje é agradar aos irmãos pregando aquilo que eles gostariam de ouvir e fazendo do culto uma extensão da praça.

Somos tão estúpidos que achamos que se maquiarmos a Palavra de Deus, deixando-a menos ofensiva em relação ao pecador, conseguiremos fazer com que mais pessoas aceitem Jesus, o que de fato acontece, embora falar “eu te aceito Jesus” nem de longe signifique salvação.

A conseqüência mais direta de tudo isso é que a cada dia mais pessoas que desconhecem o que é uma vida longe da prática do pecado se identificam com a Igreja, e cada dia mais os valores mundanos se confundem com os cristãos. Ora, se para ser um “cristão abençoado” eu não preciso mais ser santo, não preciso considerar os outros superiores a mim mesmo, não preciso servir ninguém nem abdicar de meus próprios desejos e prazeres, então a igreja é o lugar certo para eu estar.

Não à toa canso de ver crentes com vergonha de expor sua bíblia em público, de exortar um amigo chamando-o à santidade ou mesmo de inserir Cristo em seus bate-papos do colégio, faculdade ou trabalho. Ser da igreja é legal, de Cristo nem tanto.

Embora a opinião vigente seja o contrário, eu tenho certeza que estamos vivendo tempos de verdadeiro “congelamento” espiritual (Mt 24:12). Precisamos despertar (Rm 13:11), retornar ao Evangelho e não se envergonhar dele (Rm 1:16). A salvação não pode ser negociada nem adaptada aos desejos do homem e, para alcançá-la, precisamos ter as marcas de Cristo. Isso o mundo não pode oferecer. Agradar o mundo é desagradar a Deus e ponto.

Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. (Tg 4:4)

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