Por Ruy Cavalcante
Nos últimos anos, talvez décadas, especialmente com o crescimento do movimento neopentecostal no Brasil, tem-se tornado costume em nossos púlpitos, vigílias e demais reuniões eclesiásticas, a prática de se anunciar promessas, pessoais ou coletivas, que em geral não encontram fundamento legitimo nas Sagradas Escrituras.
Demonstrando um total desconhecimento da revelação escrita, das figuras e tipos encontrados na palavra de Deus, e da superioridade de nossas promessas em Cristo (Hb 8:6), cada dia pastores, presbíteros e líderes em geral, despejam mensagens atrativas, permeadas de promessas materiais e terrenas, tendo como único objetivo o crescimento de seus ministérios, mesmo que isso não signifique a salvação dos “seus seguidores”.
Ora, a ideia é simples. Imaginem duas pregações hipotéticas:
1 – “... você e eu somos pecadores, merecemos a morte e a dor, mas Deus, em seu infinito amor, enviou seu filho para que sobre ele fosse executado o juízo que era contra nós para que, a partir de então, vivêssemos por ele, negando a nós mesmos para obedecê-lo...”.
2 – “... você é um vencedor! Deus realizará todos os sonhos do teu coração, ele te promete que onde pisar o teu pé ele te dará por herança, pois você é um campeão, não perca essa oportunidade!”.
Na primeira opção, é possível que pela graça de Deus e pela sua eterna eleição, alguns se entreguem a Cristo e se tornem cristãos sadios, perseverantes na fé, que não se afastam de Jesus nem mesmo diante da mais horrenda perseguição. Na segunda opção, é bem provável que dezenas, ou quem sabe centenas se tornem crentes, e passem a frequentar uma igreja, atraídos por promessas que geralmente se relacionam com conquistas terrenas e não eternas, entretanto sem demonstrar a característica da justificação, uma nova natureza, com novas atitudes e um novo coração.
Posto isso, sinto-me extremamente impelido a lhe alertar acerca de algumas coisas.
Veja, por exemplo, que, o fato de o profeta Daniel ter se tornado governador não significa que você se tornará também. Pense bem, se esta experiência vivida por Daniel fosse uma promessa para o cristão, todos seriamos governadores, mas governaríamos a quem? Da mesma sorte, o fato de ele ter sido liberto da cova dos leões não significa que o mesmo acontecerá contigo, pois se você esqueceu, eu te ajudo a lembrar: Deus não livrou Estevão do apedrejamento, Paulo da prisão seguida de execução e João do exílio, só para citar alguns exemplos, mas nunca vi alguém pregar que Deus nos prometeu um apedrejamento mesmo que fossemos fieis a Ele, você já?
Mesmo com tudo o que passaram, ainda assim todos eles, Daniel, Estevão, Paulo e João, são mais que vencedores e há de se entender de uma vez o que a bíblia ensina quando afirma isso, questão já respondida em outros artigos do Blog, mas que repetirei. Veja o texto:
“Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: "Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro". Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”. (Rm 8:33-37)
Acostumamo-nos a ler apenas o versículo 37, porém ao simplesmente ler alguns versículos anteriores, a verdade salta aos olhos. O texto, na verdade, não afirma que em Cristo estaremos isentos da dor e do sofrimento, antes afirma expressamente que, mesmo que a tribulação, a angústia, a perseguição, a pobreza ou qualquer outro mal venha sobre nós, com Cristo podemos suportar sem desfalecer, pois ele é a nossa vitória e pelo seu amor venceremos até a morte, pois nosso destino é a glória eterna, mesmo que nesta terra tudo dê errado, aleluia!
Quem pode, portanto, saber se o que te espera não é uma decapitação no lugar de uma bela conta bancária ou de um carro do ano? Daniel se tornou governador assim como José, porém Paulo e Estevão foram executados, todos eles serviram a Deus e foram fieis em seu chamado, inclusive Paulo chega a dizer que imitemos o seu modo de proceder, por ser ele um imitador de Cristo (I Co 4:16; 11:1).
Dessa forma podemos perceber que a benção de Deus sobre o ser humano não é baseado em nosso próprio mérito, do contrário Paulo não teria o fim que encontrou (falo em perspectiva terrena). Também não se baseia em promessas aleatórias. Tudo na verdade se baseia na soberana vontade de Deus, uma vez que Ele abençoa quem quer, como quiser, independente de mérito pessoal, independente até mesmo da nossa busca pessoal por suas bênçãos, como Ele mesmo diz:
“Terei misericórdia de QUEM EU QUISER ter misericórdia e terei compaixão de QUEM EU QUISER ter compaixão". Portanto, isso NÃO DEPENDE DO DESEJO OU DO ESFORÇO HUMANO, mas da misericórdia de Deus. Pois a Escritura diz ao faraó: "Eu o levantei exatamente com este propósito: mostrar em você o meu poder, e para que o meu nome seja proclamado em toda a terra". Portanto, DEUS TEM MISERICÓRDIA DE QUEM ELE QUER, e endurece a quem ele quer”. (Rm 9:15-18 - grifo meu)
Portanto irmãos, cuidado com o que vocês pregam, cuidado ao usar experiências de uns como promessas para outros, pois geralmente você estará ensinando uma mentira, e mentira é sempre mentira, mesmo que seja agradável de se ouvir.
E aos ouvintes e leitores, fiquem atentos ao ensinamento bíblico, e observe tudo pelo crivo da Palavra, a fim de não serem conduzidos por doutrinas de homens, mas sim pela verdade imutável de Deus.
2 Comentários
Herege, desconfio que na sua visita a João Pessoa você instalou alguma escuta aqui... Preguei sobre isso nop último domingo...
ResponderExcluirIsso para mim apenas confirma uma coisa: Eu não sou herege sozinho ehehhehehhe paz meu irmão.
ResponderExcluirSomente comentários ofensivos serão moderados. Discordar de mim não é pecado, então discorde à vontade.