A alegria na humilhação do EU




"O homem que realmente chora por causa de seu estado e condição pecaminosos é o homem que haverá de arrepender-se; e, na verdade, ele já começou a arrepender-se. E o homem que verdadeiramente se arrepende, em resultado da obra do Espírito Santo, é o homem que certamente será conduzido aos pés do Senhor Jesus. Tendo-se conscientizado de sua extrema pecaminosidade e desamparo, passa a buscar um Salvador, e encontra esse Salvador em Jesus Cristo".

Martyn Lloyd-Jones


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Por Ruy Cavalcante

Na vida cristã, a alegria é precedida do choro e isso é especialmente verdadeiro no momento da conversão.

A verdadeira conversão não se dá mediante pulos de alegria, mas sim mediante a humilhação de mim mesmo, ao me reconhecer pecador, imperfeito, incapaz de salvar-me.

Essa é a chamada que o profeta Joel faz ao povo que, insistentemente, mantinha-se de olhos fechados para seus próprios pecados, enquanto Deus constantemente os alertava com juízos terríveis (Joel 1:4-7), até que o juízo definitivo viesse (Joel 2:1). Diz assim o profeta:

Todavia ainda agora diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal (...) congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os meninos, e as crianças de peito; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu tálamo”. (Joel 2:12-13, 16)

É como se provocasse: Vocês estão se alegrando e festejando o que? A calamidade está em nossa porta, cessem os sorrisos, até os noivos ignorem sua alegria, pois a tragédia já nos espera e a culpa é nossa!

Algo parecido ocorre com o profeta Isaías, desta vez não mediante profecia, mas em sua própria experiência. Ao vislumbrar a santidade e perfeição de Deus numa visão, Isaías se escandaliza de si mesmo e brada: ai de mim, estou perdido! (Isaías 6:5). Ele viu a si mesmo confrontado com a perfeição divina.

Vejam também o que ocorre com o povo do exílio que retorna para reconstruir Jerusalém e seu templo. Ao serem confrontados com as verdades recém-compreendidas da Lei, percebendo o quão distantes estavam da vontade de seu Deus, põem-se a chorar (Neemias 8:9). O choro que antecede a verdadeira conversão, ou o que muitos chamam de “quebrantamento do coração”.

É após esse descortinamento de quem eu sou, do reconhecimento de meu valor ínfimo, que poderei ser alguém pobre de espírito (cf. Mateus 5:3), e por causa dessa pobreza, eu choro, eu me angustio, eu me desespero.

Mas logo serei consolado. Esse reconhecimento, essa dor, esse choro precede o descobrimento do Salvador (Mateus 5:4). Ele virá e me consolará com seu próprio sacrifício. Ele me resgatou e agora eu sou um bem aventurado! Mas não antes da pobreza de meu espírito, não antes de meu choro. O choro por descobrir quem eu sou.

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”.

Todo esse processo é gerado pelo próprio Deus, tendo como ferramenta para tal o seu Evangelho. Sem evangelho não há arrependimento, não há quebrantamento, não há salvação.

Mensagens diversas desta podem até nos animar por algum tempo, mas logo nossa desgraça se escancara, cessando apenas com a água da vida, mediante a qual nunca mais teremos sede.

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