Reunidos em nome de quem?



Por Ruy Cavalcante

Dias atrás fui acusado de estar impedindo a ação de Deus na Igreja, acusação esta recorrente nos últimos 12 anos, desde que fiz a transição do gospel para o cristianismo genuíno. Segundo disseram, meus ensinos afastam as manifestações do Espírito Santo no meio do povo, pois se tratam de “minha opinião”, são frias, céticas e sem unção para operar tais manifestações, além de impossibilitar que outros reproduzam essa suposta unção.

Obviamente que as manifestações a que sempre se referem, quando tecem estas críticas são as “revelações”, “profecias”, dons de línguas estranhas e outros movimentos que ocorrem em igrejas “avivadas”, mas que não ocorrem nos lugares onde eu ensino, por minha culpa, segundo eles.

Bom, primeiro preciso dizer que estas coisas não me ofendem, pelo contrário, já dei algumas risadas disso, entretanto, sempre que paro e penso a respeito me vem outro sentimento, a tristeza. Sinto-me triste por saber que, apesar de tanto esforço não somente meu, mas de meus pastores, de pastores de outras congregações e de tantos outros irmãos de tantos lugares, as pessoas continuam não tendo a menor ideia de quem é Deus, a ponto de achar que algum homem pode, sob qualquer perspectiva, impedir as ações do Senhor Soberano do Universo.

Confesso que sinto um pouco de preguiça de ter que provar a cristãos, que o Deus da bíblia não pode ter suas ações impedidas por quem quer que seja, mas farei isso, ainda que superficialmente. Sobre isso a bíblia, dentre tantas outras coisas, diz:

Eis que como leão subirá das margens do Jordão um inimigo contra a morada forte; mas de repente o farei correr dali; e ao escolhido, pô-lo-ei sobre ela. Pois quem é semelhante a mim? e quem me fixará um prazo? e quem é o pastor que me poderá resistir?” (Jr 49:19)

Quem pode determinar a que momento Deus irá agir? Ninguém. Qual pastor pode limita-lo em suas ações? Nenhum.

Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz”. (Sl 115:3)

Deus faz tudo o que planeja fazer, bastando para isso apenas uma coisa: Ter vontade.

Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como chefe sobre todos. Tanto riquezas como honra vêm de ti, tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo”. (1Cr 29:11-12)

Deus detém todo o poder e todas as virtudes do poder são parte de sua natureza. Ele está acima de tudo e domina a todos, e se há alguém com alguma força, esta força foi dada por Ele, sendo ela mesma incapaz de impedi-lo em qualquer de suas ações.

E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4:35)

Diante de Deus eu e qualquer outro homem sobre a terra, do passado, do presente ou dos que virão, SOMOS NADA. E Ele, o Senhor Deus, opera sempre segundo a sua vontade, não havendo nada nem ninguém que possa deter suas ações, tampouco questioná-las. 

Acredito que estes breves comentários sejam suficientes para qualquer cristão sincero se convencer de que Deus é SOBERANO, e nós, diante dEle, somos ninguém, portanto é impossível que as acusações feitas contra mim sejam, ao menos de longe, reais. São apenas bobagens, proferidas por quem não conhece ao Deus que diz servir.

Mas quero aproveitar para refletir sobre as manifestações sobrenaturais de Deus, sem, contudo entrar no mérito delas, se falsas ou verdadeiras, se atuais ou se referindo-se a tempos passados, apenas comentando sobre dois textos que entendo ser importante frisa-los aqui. O primeiro diz:

E estes sinais acompanharão os que creem (...)”. (Mc 16:17a)

Jesus já havia ressuscitado, e diante de discípulos ainda incrédulos quanto ao seu retorno, entrega-lhes uma grande missão: Pregar o Evangelho a toda criatura. É fácil perceber que as palavras que Jesus profere após isso, se referem à uma perspectiva missiológica. Os sinais acompanharão aos que creem durante a jornada de pregação do Evangelho pelos discípulos, que a partir deste momento estavam sendo enviados, a partir desta ordem expressa de Cristo. Vale ressaltar que se trata de uma descrição de Marcos, não uma prescrição.

Penso então que se a igreja espera ver sinais não deve busca-los, antes deve enfatizar suas ações na missão de anunciar o Evangelho, o genuíno Evangelho de Jesus Cristo, em todos os lugares e a todas as pessoas quanto possíveis. Assim, cumprindo tal missão, os sinais acompanharão a igreja, e não a igreja correrá atrás de sinais.

Logo, se tais sinais não ocorrem, não é porque alguém está impedindo a ação de Deus, mas porque a igreja não está pregando, evangelizando, levando a luz do Evangelho a toda criatura. Não culpem os outros por sua negligência.

Esta é minha primeira hipótese. Vamos à outra.

Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. (Mt 18:20)

Deus sempre operou maravilhas no meio de seu povo. De Gêneses a Apocalipse vemos os milagres, as manifestações e as maravilhas sendo operadas por Deus diante do seu povo, diante daqueles que clamam o Seu nome. Na história da Igreja após o fechamento do Canon bíblico os relatos também são incontáveis. Da era dos Pais da igreja, até a igreja contemporânea, são relatadas incalculáveis histórias de avivamentos, milagres, curas, libertações e conversões extraordinárias.

Embora já saibamos que Deus não está limitado em suas ações, tendo total soberania para agir até mesmo no meio de incrédulos, a história deixa clara que no meio do seu povo ele sempre operou maravilhosa e graciosamente.

Ora, se tais manifestações não estão ocorrendo, talvez não seja em nome dEle que muitos de nós estamos reunidos. De repente não é para a glória dEle que muitos de nós estamos trabalhando e exercendo nossos ministérios eclesiásticos. Pode ser que a vontade de muitos seja receber uma glória que não lhes pertencem. Pode ser que servimos apenas por pretexto, pois o que realmente desejamos é sermos reconhecidos, ter ministérios de sucesso secular, ter a placa da igreja divulgada, ter nosso nome conhecido, não tanto o de Jesus e, dessa forma, talvez, Deus simplesmente prefira operar em outro lugar.

Esta é a minha segunda hipótese. Obviamente existem outras hipóteses a serem apresentadas, mas vou parando por aqui. 

Escrevi este texto mesclando primeira com terceira pessoa, mas o fato é que estas questões não são uma realidade particular, há muito crente e muita igreja embaraçada com estes temas, mas que já deveriam ter superado isso ha muito tempo.

Deus opera quando quer, cabe à Igreja servi-lo, pregando o Evangelho, edificando os que creem, ministrando os sacramentos, zelando pelas verdades contidas nas Escrituras e principalmente entendendo que tudo isso deve ser feito exclusivamente para a glória dEle, com ou sem sinais.

Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” (Sl 115:1)

Que fique a reflexão: Em nome de quem estamos nos reunindo?

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