Por Ruy Cavalcante
A carta de Paulo aos romanos é considerada por muitos, inclusive por mim, o documento doutrinariamente mais completo de toda a Bíblia. A partir da compreensão dela muitos eventos chaves ocorreram na história da Igreja Cristã.
Uma questão introdutória importante sobre esta carta são justamente seus destinatários.
“A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos (ou ‘chamados para serem santos’)” (Rm 1:7a).
Paulo escreve aos cristãos de Roma, e que coisa incrível é haverem cristãos em Roma!
Lembremos que Roma era a capital do Império e onde sem concentravam os poderes políticos, econômicos, bélicos e onde especialmente se manifestava toda a depravação moral da cultura e sociedade greco-romana. O próprio Paulo nos dá uma descrição dessa realidade nos capítulos 1 e 2 desta carta, quando trata de toda a perversão gentílica.
Tal descrição se assemelha ao que sabemos sobre Sodoma e Gomorra, com uma diferença: mais do que um homem e suas filhas, ali se encontrava um povo chamado de santo, como uma garça branca, que mesmo vivendo em meio a lamaçais, não sujava suas vestes.
Como isso foi possível? O que aconteceu para que estas pessoas, deixando a cultura depravada, porém comum, onde foram criadas, vivessem como amados e santos de Deus? O que os transformou a ponto de se tornarem tão diferentes dos demais? A resposta é simples:
O Evangelho.
O Evangelho fez o que não era possível ser feito por qualquer outro meio. É por esta razão que Paulo inicia a conclusão de sua introdução à carta, afirmando:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” (Rm 1:16).
Mesmo com tantos ataques e escárnios proferidos contra o Evangelho, mesmo com tantos riscos a quem o proclama, Paulo não podia se envergonhar dele, pois era o Evangelho, e somente o Evangelho, o único meio escolhido por Deus que, com poder eterno, realizava a obra de regeneração e salvação do homem. O poder de Deus para salvação humana está centrado, por decisão Soberana do próprio Deus, no Evangelho.
Nada mais pode fazer o que ele faz.
A mensagem que transformou aquela porção de gente outrora depravada, em santos e amados de Deus, foi a do Evangelho que agora Paulo expõe em toda carta.
Essa mesma verdade precisa voltar a aquecer o coração da igreja hoje. Não é concebível que negligenciando estas coisas, tentemos o mesmo efeito com mensagens centralizadas em coisas temporais e inócuas.
Isso jamais será possível e esta é uma das grandes razões pelo qual a igreja contemporânea pouco se difere culturalmente, em suas práticas e costumes, da sociedade onde está inserida. Não há como regenerar o coração humano com mensagens triunfalistas, reduzindo a fé a um sistema de crenças sobre coisas possíveis e tangíveis como o dinheiro e um melhor emprego.
Eis porque evangélicos em todo lugar continuam vivendo como se não conhecessem Cristo, furtando, sendo desonestos, iracundos, envolvendo-se em adultérios e corrupções políticas. Eles não conheceram e creram no Evangelho, mas em promessas finitas e muitas vezes mentirosas, proferidas por líderes perversos ou, quando muito, incautos.
Igrejas lotadas de crentes carnais, este é o resultado de uma pregação sem o verdadeiro Evangelho da Cruz. Diferente de Roma, uma cidade perversa e depravada, mas onde viviam um povo santo que foi santificado por ter conhecido tal Boa Nova.
O Evangelho, e somente o Evangelho, é o poder de Deus para salvação, e tudo o que a acompanha. Lembre-se disso.
0 Comentários