Plantando limões não se colhem morangos

Por Ruy Cavalcante

Ouço muito em pregações modernas, especialmente aquelas que duram horas falando de dinheiro (o que por si só já é absurda), declarações do tipo: Como você espera colher morangos se plantou limão?

Obviamente falam isso numa referencia ao plantio das “melhores sementes” (leia-se ‘muito dinheiro’) para que Deus nos faça prosperar, ou para que nos abençoe em outras áreas ligadas a nossa vida terrena.

Gostaria de me apropriar dessa ideia sobre plantar algo e esperar colher um produto diferente, acho que ela pode vir a calhar. Ficaria então assim a questão:

Como esperamos formar cristãos, se o que pregamos para eles não é o Evangelho de Cristo?

Façamos um exercício mental para tentar fundamentar, ainda que empiricamente, o que estou tentando dizer. A igreja evangélica cresceu de forma exponencial na última década, ultrapassando, já em 2010, a faixa de 42 milhões de evangélicos. Eu então pergunto: Você consegue lembrar rapidamente de alguma notícia ou de algum impacto positivo dentro da sociedade brasileira, em consequência desse crescimento? Alguma transformação real ou melhoria social ocasionada pelo número cada vez maior de pessoas que professam a fé cristã evangélica? Não estou falando de coisas pontuais, isoladas, estou falando de uma notícia de relevância nacional, estadual ou mesmo municipal, de um benefício real para a sociedade brasileira, você consegue lembrar?

Agora o inverso disso. Você consegue lembrar de algum impacto negativo, uma notícia ruim de grandes proporções, que de uma forma ou de outra tenha afetado uma parte considerável da sociedade, envolvendo evangélicos? Um escândalo político de grandes proporções envolvendo evangélicos, ou a notícia de desvios de grandes quantidades de dinheiro de instituições religiosas, ou de casos crescentes de pedofilia ou coisas afim?

Não sei você, mas eu só consigo lembrar de exemplos dessa segunda indagação. À minha mente só chegam memórias negativas quando se limita a questão a notícias de grandes proporções. Em questões pontuais, pela graça de Deus, há muitos bons exemplos de cristãos e igrejas (geralmente pequenas congregações evangélicas) Brasil afora.

Pois bem. No capitulo 10 de carta de Paulo aos Romanos, o apóstolo fala a respeito dos israelitas e de como eles, apesar de sinceros, tem buscado a Deus a partir de uma justiça humana, ineficaz, quando na verdade Cristo é a justiça de Deus, e apenas a partir da fé nele é que pode haver verdadeira justificação. Ele então pergunta: Mas como crerão se não há quem pregue?

E eu pergunto: Quem pregue o quê? Prosperidade? Curas? Dons? Milagres? Sinais?

Não! Paulo se refere à pregação da cruz! É somente através da pregação do Evangelho genuíno, de Cristo crucificado, do sacrifício substitutivo, do arrependimento do pecado e do perdão, é que alguém poderá ser alcançado pela Graça, se assim Deus desejar.

O Evangelho é o poder de Deus para salvação, o Evangelho da Cruz, diz Paulo aos mesmos Romanos, no capitulo 1. Não se formam cristãos regenerados pregando sobre bens materiais. Pessoas não são transformadas quando ouvem sobre milagres. Não há restauração de caráter para quem aderiu a uma igreja evangélica por meio de uma pregação sobre bênçãos ou sobre promessas individuais.

Essa transformação é gerada a partir da fé genuína em Cristo, e essa fé vem do ouvir a Palavra de Deus. Note que quando Paulo afirma isso, no capitulo 10 de Romanos, verso 17, o contexto deixa claro que ele se refere ao Evangelho, não a qualquer ensino sobre questões alheias a cruz.

Qual a consequência disso tudo?

Simples. A igreja evangélica, não obstante seu crescimento massivo, não tem conseguido ser sal, muito menos a luz do mundo, pois esse crescimento é ilusório, produzido por “agrotóxicos” que no lugar de dar vida, destrói a vida de quem ingere seus ensinos, ainda que acreditem estar ingerindo alimentos de qualidade.

Por isso tantos escândalos e quase nenhum impacto positivo para o Brasil advindo desse crescimento. Por isso tanta chacota contra a igreja, por isso tanta afronta. A própria igreja (igreja institucional) tem alimentado esse sentimento de ojeriza contra evangélicos. Não somos tão vítimas como muitos líderes tentam nos fazer acreditar.

Graças a Deus, como sempre faço questão de lembrar, existem exceções. Graças a Deus pelos que não se dobram a baal, pelos milhares de irmãos e irmãs, geralmente anônimos, que honram o Evangelho de Cristo e o Deus que nos salva, que agem como servos, que buscam o benefício de outros e não apenas de si mesmos, que levam o nome de Jesus gravado em seus corações, que possuem uma conduta cristã genuína, que buscam o Reino ainda invisível de Deus!

Voltemos então ao Evangelho, anunciemos em tempo e fora de tempo, para que ouçam e conheçam a Jesus, ainda que estejam com grossas escamas nos olhos.

Deus abençoe a todos.

Postar um comentário

2 Comentários

  1. Concordo Ruy, com essas verdades expostas acima. Deus seja louvado pela sua vida e discernimento do Seu Reino. Tenho dito que: Não existe Evangelho falso e Evangelho verdadeiro... o que existe é o EVANGELHO DO REINO e OUTRO EVANGELHO. No seu sermão escatológico, Jesus disse: "E este EVANGELHO DO REINO será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim." Mt 24.14 - Note que "este" faz diferença antagônica com "aquele" (próximo do fim)... ou seja; Ele dizia que o Evangelho do Reino teria que ser pregado como pré requisito do Fim dos Tempos. Pois o que está sendo pregado, pelos "servos maus" da vinha é OUTRO!!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Célio... de fato há outro evangelho sendo difundido por ai, muito distante do Evangelho de Cristo... mas como uma aparência piedosa que engana muitos irmãos desatentos...

    Deus te abençoe.

    ResponderExcluir

Somente comentários ofensivos serão moderados. Discordar de mim não é pecado, então discorde à vontade.