O culto racional (esboço)

Por Ruy Cavalcante

Aproveitando a idéia do post anterior, gostaria de comentar, resumidamente, alguns pontos do texto encontrado em Romanos 12:1-2:

Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Antes de qualquer coisa é possível perceber claramente que este “culto racional” trata-se de algo pessoal, ou seja, não se refere ao culto litúrgico a qual estamos acostumados, mas ao culto que cada um de nós deve prestar individualmente a Deus. Eis o motivo de Paulo citar o nosso próprio corpo como sacrifício.

Através desse texto sabemos também que o culto racional é algo que agrada a Deus e que ele só é possível quando nós mesmos nos fazemos em sacrifício. Porém este sacrifício não é conforme os relatados na Lei mosaica, mas um sacrifício vivo. Lembremos que pela lei de Moisés sacrificavam-se animais literalmente, derramando seu sangue.

Mas o que seria um sacrifício vivo?

Para facilitar uma resposta adequada a esta questão, deixemos que a própria bíblia fale a respeito:

E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mc 8:34).

“Negar o meu eu” é mais do que abrir mão de assistir a novela ou um jogo de futebol para ir ao culto, antes significa que tudo o que eu gosto de fazer somente é lícito se não atrapalhar a obra de Deus e obviamente se não for um pecado já anunciado em sua Palavra, fora disso, até a mais simples diversão é fruto de uma vida de quem não decidiu se oferecer como um sacrifício vivo. Não é se sacrificar no sentido de se martirizar, mas priorizar o serviço do Reino, sem considerar nossos próprios desejos. É justamente nisso que se resume o cristianismo, deixar de fazer sua vontade para fazer a vontade daquele para quem entregamos a nossa existência, Jesus.

Ora pois, já que Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo pensamento; porque aquele que padeceu na carne já cessou do pecado, para que, no tempo que ainda vos resta na carne não continueis a viver para as concupiscências dos homens, mas para a vontade de Deus” (I Pe 4:2).

Enquanto estivermos nesta terra não devemos andar segundo nossos próprios desejos e sim segundo os desejos de Deus, o que está em pleno acordo com o texto anterior e com a idéia do culto racional.

Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outra coisa em que teu irmão tropece” (Rm 14:21).

Seja o que for, sendo bom ou ruim, pecaminoso ou não, se isso escandaliza meu irmão eu devo abrir mão de praticar ou experimentar, isso também é ser um sacrifício vivo, por amor de meu irmão e obediência a Deus. Vale lembrar que escandalizar o irmão não se trata de fazer algo com o qual ele fique assombrado, mas de levá-lo, pelos meus atos, a pecar ou a se desviar da fé.

Ninguém busque o proveito próprio, antes cada um o de outrem” (I Co 10:24).

Não são os nossos sonhos que devem ocupar a prioridade em nossas vidas, mas os sonhos dos outros antes dos nossos, isso também é praticar um culto racional e “negar a si mesmo”. A mesma idéia encontramos em Fp 2:4.

Notem que em todos estes textos faz-se necessário uma decisão pessoal para que cada princípio seja realidade em minha vida. Ora, o culto é racional justamente porque é algo que depende de uma decisão e não de um desejo ou de uma vontade. A decisão é obedecer ou não à palavra de Deus.

No versículo 2 do nosso texto base lemos:

E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

O que significa não se conformar com este mundo?

Significa não se deixar seduzir pelos valores dele, não se influenciar por eles e sim pelos valores de Deus, revelados em sua palavra. E como fazemos isso? Buscando o renovo, a purificação de nosso entendimento. Isto se consegue através da Palavra de Deus, justamente a principal forma como Deus decidiu revelar a sua vontade ao ser humano. É um processo plenamente racional, baseado em meditação e decisão, além de espiritual, relacionado à atuação do Espírito Santo sobre aqueles que buscam a obediência a sua Palavra. Como sabemos a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4:12).

Outro ponto importante em todo este processo diz respeito à vontade de Deus. Diz o texto que ela é boa, perfeita e agradável. Mas ela é agradável para quem?

Mas uma vez deixemos que a bíblia nos responda:

Então lhes disse: A minha alma está triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo. E adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26:38-39).

São ministros de Cristo? falo como fora de mim, eu ainda mais; em trabalhos muito mais; em prisões muito mais; em açoites sem medida; em perigo de morte muitas vezes, dos judeus cinco vezes recebi quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, (...)em perigos entre falsos irmãos, em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejuns muitas vezes, em frio e nudez. Além dessas coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim, o cuidado de todas as igrejas” (II Co 11:23-28).

Alguém pode afirmar que a experiência de Jesus e Paulo foi agradável?

Duas frases equalizam esta questão, uma de Jesus, outra de Paulo respectivamente: “minha alma está triste até a morte” e “além dessas coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim”.

A única conclusão possível é que a vontade de Deus é agradável para o próprio Deus. Cabe a cada um de nós obedecê-la, seja isso divertido, agradável ou não para nós mesmos. Isto é também ministrar um culto racional a Deus.

E por fim, eu não posso deixar de afirmar que aquele que atende aos nossos desejos não é Deus e sim o diabo. Deus atende aos seus próprios desejos, pois somente eles são bons, perfeitos e agradáveis.

Deus abençoe a todos nós e nos ajude a perseverar na verdadeira fé em Cristo.

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