A necessidade do Evangelho

Por Ruy Cavalcante

“ide e pregai o evangelho...”

Há algum tempo venho pensando nos motivos que fizeram a igreja evangélica se assemelhar tão grandemente com uma empresa em busca de espaço no mercado, mercado esse regido pelas leis da competitividade. Eu não sei em que ponto isso começou, mas sei que foi o início de uma grande derrocada.

Por questões espúrias como a competitividade eclesiástica iniciou-se um processo de humanização do evangelho, materialização de seu conteúdo e deturpação de sua essência, ao ponto que, hoje, pouco se prega um evangelho que não seja baseado em princípios materialistas, com facilidades para seus adeptos, centrado nas necessidades e desejos do indivíduo.

Estatisticamente o Reino de Deus tem avançado exponencialmente no Brasil, mas espiritualmente, será que o evangelho que tem sido pregado, é capaz de aumentar as estatísticas daqueles que ultrapassarão a “entrada estreita”?

O que eu vejo, em minha singela observação, são pessoas que buscam a Deus para ficarem ricas, para terem seus problemas resolvidos ou para participarem de uma comunidade interessante. Conforme afirma Marília de Camargo César:

“Segui-lo é sair da miséria, é conseguir o emprego, a promoção ou então evitar o
câncer, a paralisia, o desastre. Ninguém quer diminuir. Todos querem crescer e,
se possível, viver uma vida hollywoodiana.” (Feridos em nome de Deus, São Paulo:
Mundo Cristão, 2009, p. 16.)

Que infelicidade, que engano! Enquanto o evangelho de Cristo faz nascer servos, o evangelho moderno cria protagonistas. Enquanto Jesus determina que todos aqueles que buscam segui-lo neguem-se a si mesmos os atuais líderes dizem: Conquiste, determine, traga à existência a sua vitória, pois você é um Rei!

O evangelho verdadeiro é renúncia, é perseguição, é amor e perdão. O evangelho verdadeiro leva desaforo para casa, enfrenta prisões e calúnias. Afinal de contas, em que gaveta a igreja guardou o exemplo dos apóstolos e missionários neotestamentários? Para qual arquivo secreto enviamos as perseguições e mortes sofridas pelos mártires e pais da igreja? Será que Deus, quebrando seus princípios eternos, estabeleceu acepção de pessoas justamente na vida daqueles que levaram adiante o seu Reino, em tempos onde a morte era a única recompensa para tais idealistas?

Não encontro outra solução para mudanças que não passem por um retorno ao Evangelho de Cristo, não vejo outra saída para os escândalos, malas-cheias, dólares escondidos, pastores dominadores, crentes conquistadores, saqueadores e vendilhões de templos, cristãos namoradores, servos servidos e todo o tipo de doença espiritual sem que a essência do amor, da renúncia, do perdão e da sujeição sejam resgatados por uma pregação mais distante de homíléticas contaminadas por nossos próprios desejos, e mais próximas de Cristo.

Voltemos ao evangelho enquanto é tempo, amanhã pode não adiantar mais.

Fonte da imagem: http://www.anunciame.com.br

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